terça-feira, 19 de maio de 2020

Variedade Linguística (3º EM A, B e C)


TEXTO: SER POLIGLOTA NA PRÓPRIA LÍNGUA

Evanildo Bechara

O professor dizia:
“Isso está errado, isso não se diz”.
Como ‘não se diz’? A criança repete o que ouve. Seus pais só dizem isso, e são advogados, professoras primárias...
O outro erro era:
“Isso não é português”.
Ora, se não é português, tem que ser outra língua, francês, inglês, alemão...
São dois erros de pedagogia. O professor de hoje reconhece que o aluno vem com a sua modalidade linguística. Uma língua que só tem uma modalidade é um a língua morta.
O ideal é que o aluno seja poliglota na própria língua, que ele aprenda o maior numero de realidade da sua língua e até a língua padrão, porque senão vai cometer vários erros de tradução na própria língua . Como a historia do sujeito que foi para o Rio grande do Sul. Quando chegou ao Paraná, leu em uma placa: Atenção, tartarugas nas estradas. Ele disse para mulher:
“Eu vou diminuir a marcha. A primeira tartaruga que aparecer, você apanha e a gente leva de souvenir”.
Atravessou o Paraná, Santa Catarina, e nada de tartaruga. Só depois descobriu que tartaruga é quebra-mola. Claro que todas essas normas de correção, próprias de cada variedade, tem seu limite: a propriedade do texto. Se você constrói um texto que é uma carta intima a um amigo, tem possibilidade de utilizar construções que não estão apoiadas nem documentadas pelas normas da língua padrão. Mas a natureza do termo é que leva a isso. Essa realidade existe em todas as obrigações sociais. Quando a gente recebe um convite para uma festa, está la no convite: traje passeio, ou esporte, ou a rigor. O que é isso?É que existe uma etiqueta social. A língua padrão é a etiqueta cultural. Um tipo de modalidade que não é para usar todos os dias.
Há pessoas até que exageram, e resultado é que normalmente não são entendidas. Tenho um amigo professor de português, que só fala a língua exemplar, padrão. Uma vez saindo do Pedro II, foi assaltado. Gritou, e não apareceu ninguém. Ele ficou aborrecidíssimo. Voltou ao Pedro II e reclamou.
“Mas você não gritou? Não pediu socorro?”, perguntaram.
“Eu gritei, mas não apareceu ninguém!”
“Mas o que você disse?
“Eu gritei ‘Peguem-no!Perguem-no!’”
O limite é a adequação.

Vocabulário

Modalidade: Forma, característica.
Souvenir: objeto característico de um lugar, lembrança.
Propriedade: particularidade, adequação.
Etiqueta: conjunto de normas de conduta do convívio social.
Pedro II: tradicional colégio do Rio de Janeiro, criado em 1837.
Adequação: conveniência.

Para entender o texto


1.       O uso de uma língua varia segundo a época, a região, a classe social, a idade, o grau de escolaridade etc. Com base nessa constatação, qual a principal recomendação do professor Bechara?

2.       A maneira como falamos ou escrevemos também varia em função da pessoa a quem nos dirigimos e do tipo de relação formal ou informal, exigida pela situação. Que exemplo da etiqueta social o professor utiliza para fazer um paralelo com essa afirmação?

3.       Com que outra expressão o professor se refere, no último parágrafo, à língua padrão?

4.       A que conclusão chega o professor sobre a língua padrão ao compará-la com as normas de conduta da etiqueta social?

5.       O que quis dizer o professor com a frase “O limite é a adequação”, em referência à maneira de falarmos e escrevermos?

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