Assista ao vídeo para complementar estudos.
Educação, Leitura, Língua e Linguagens, Pesquisa, Tecnologia
terça-feira, 26 de maio de 2020
segunda-feira, 25 de maio de 2020
A Moreninha - Literatura (2º EMC)
Assista a resenha do livro "A Moreninha" de Joaquim Manuel de Macedo
Após assistir ao vídeo, faça as anotações no caderno.
Após assistir ao vídeo, faça as anotações no caderno.
A Moreninha - capítulo I e III
Assista aos capítulo I e III de "A Moreninha" - Joaquim Manuel de Macedo
Atividade - Periodização Literária (1º EM C e D)
ATIVIDADE
1.
O que nos permite agrupar a produção literária de
determinado período histórico?
2.
O que é estilo individual?
3.
A literatura brasileira começa no período
Barroco. Que ouros estilos temos depois deste?
4.
Como se classificam as eras na:
a) Literatura
Portuguesa?
a) Literatura
Brasileira?
Literatura - Periodização Literária (1º EM C e D)
Para leitura do conteúdo e posterior resolução de atividade.
LITERATURA
PERIODIZAÇÃO LITERÁRIA
Estilos de Época
Na
literatura, os Estilos de Época
(também chamadas de Escolas Literárias
ou Movimentos Literários)
representam o conjunto de procedimentos estéticos que caracterizam a produção
literária de determinado período histórico.
Estão
concentrados a partir de características semelhantes entre as obras dos
produtores literários, nesse caso, os escritores.
Em outras
palavras, os estilos de época surgem na medida em que os processos artísticos
individuais se tornam repetitivos e constantes.
São
assinalados por determinada época histórica de acordo com seus valores
estéticos e ideológicos, criando assim, uma geração de escritores e
consequentemente, de obras literárias que apresentam características
semelhantes.
Estilo Individual
O Estilo Individual ou Estilo Pessoal designa o modo
particular utilizado por cada escritor na composição de suas obras.
Ou seja,
representa o conjunto de características estilísticas ou temáticas (na forma ou
no conteúdo da construção poética), o qual fora incluído numa determinada
escola literária, de acordo com a época vivida (contexto-histórico) ou até
mesmo pelas características que ressaltam em sua obra.
Dessa
maneira, podemos pensar no escritor Machado de Assis (1839-1908) que está
inserido no movimento romântico e realista, uma vez que suas obras contém
características de ambas escolas.
Estilos de Época na Literatura Brasileira e
Portuguesa
Antes de mais
nada, importante salientar que toda a produção literária foi dividida
didaticamente em “Eras ou Épocas”.
Dentro delas,
surgem as “Escolas, Movimentos ou
Correntes”, as quais representam um período histórico determinado, repleto
de escritores e obras, que possuem semelhanças estilísticas e temáticas e
compartilham estilos e visão de mundo.
Note que
qualquer obra literária apresenta marcas do contexto em que foi produzida, seja
na esfera social, política, cultural ou ideológica da época em questão.
Na Literatura de Portugal, as Eras são
classificadas em: Medieval, Clássica e Moderna, sendo que dentro de cada uma há
um conjunto de movimentos literários.
Destarte, na Era Medieval estão reunidos os
movimentos literários do Trovadorismo (1189) e do Humanismo (1418).
Por
conseguinte, na Era Clássica
encontram-se as escolas: Classicismo (1527), Barroco (1580) e o Arcadismo
(1756).
Por fim, na Era Moderna, também denominada de Era
Romântica, estão os movimentos: Romantismo (1825), Realismo-Naturalismo (1865),
Simbolismo (1890) e Modernismo (1915).
Por sua vez,
a Literatura Brasileira é formada
por duas Eras: Colonial e Nacional.
Assim, na Era Colonial estão reunidas as escolas
literárias do Quinhentismo (1500), Barroco (1601) e Arcadismo (1768).
Já na Era Nacional estão: o Romantismo
(1836), Realismo/Naturalismo/Parnasianismo (1881), Simbolismo (1893),
Pré-Modernismo (1902) e o Modernismo (1922).
Periodização da Literatura
A Periodização Literária representa o
conjunto de eras e escolas literárias, agrupadas sistematicamente de forma a
facilitar o estudo dos escritores e da arte literária.
Para tanto, a
divisão das escolas literárias de Portugal e Brasil diferem na época em que
cada uma começou a se desenvolver, entretanto, abrigam características
semelhantes.
O conjunto de
movimentos literários portugueses
são: Trovadorismo, Humanismo, Classicismo, Barroco, Arcadismo, Romantismo,
Realismo-Naturalismo, Simbolismo, Modernismo.
O conjunto de
movimentos literários brasileiros
são: Quinhentismo, Barroco, Arcadismo, Romantismo, Realismo, Naturalismo,
Parnasianismo, Simbolismo, Pré-Modernismo e Modernismo.
Resenha de "O Mágico de Oz" (9º ano B)
Assista ao vídeo da resenha de "O Mágico de Oz"
Após assistir ao vídeo registre no seu caderno seu ponto de vista.
1. Gostou da resenha? Você entendeu a resenha?
2. Quem fez a resenha falou tudo sobre a obra?
3. O que você acrescentaria que não foi abordado na resenha?
Concordância nominal - Atividade (7º ano B)
Atividade 5 – CONCORDÂNCIA NOMINAL
Leia este poema, de Chacal:
Papo
de índio
Veiu uns ômi di saia preta
cheiu di caixinha e pó branco
qui eles disserum qui chamava açucri
Aí eles falarum e nós fechamu a cara
depois eles arrepetirum e nós fechamu o
corpo
Aí eles insistirum e nós comemu eles.
(In:
Heloísa de Holanda e Carlos. A.M. Pereira, orgs. Poesia jovem – Anos 70. SP:
Nova Cultural, 1982. P.79.)
1.
O poema trata do relacionamento entre índios e
brancos. Com base nas informações que ele apresenta, responda:
a)
Em que período da História do Brasil o
episódio relatado pelo texto provavelmente aconteceu? Por quê?
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b)
Quem fala no poema? Quem são os “ômi di saia
preta”?
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c)
Com que finalidade esses “ômi” carregavam
caixinhas e açúcar?
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a)
Reescreva todo o texto na variedade padrão da
língua. Se quiser, mantenha expressões como fechar a cara e fechar o
corpo.
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b) Na nova redação dada ao texto, como ficaram as
palavras “Veiu”, “cheiu” e “fechamu”? Por que elas sofreram modificação?
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2. O texto, apesar de escrito, apresenta algumas
marcas da linguagem oral.
a) Identifique palavras ou expressões que tenham
sido escritas exatamente como se fala, sem respeitar as normas da ortografia
oficial.
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b) Identifique no texto dois procedimentos
linguísticos que sejam próprios de relatos ou narrativas orais.
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c) Explique a relação entre o título e as marcas
de oralidade do texto.
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3. Além das marcas de oralidade, o texto
apresenta outras palavras e expressões que fogem a variedade padrão.
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4. Agora, pesquise
na Internet:
Para que serve a
concordância?
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5. Leia o poema e a seguir
reescreva –o, fazendo a devida concordância das palavras entre parênteses.
Receita
de acordar palavras
palavras são como estrelas
facas ou flores
elas têm raízes pétalas espinhos
são (liso) (áspero) (leve) ou (denso)
para acordá-(lo) basta um sopro
em sua alma
e como pássaros
vão encontrar seu caminho
(Roseana Murray)
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Variação linguística / música “Zaluzejo” - (3º EMC)
Assista
ao vídeo com a música “Zaluzejo” de Teatro Mágico
terça-feira, 19 de maio de 2020
Variedades Linguísticas (3º ano A, B e C)
Variedade Linguística,
Normas Urbanas de Prestígio e Preconceito Linguístico
Variedade
linguística é cada
um dos sistemas em que uma língua se diversifica, em função das possibilidades
de variação de seus elementos (vocabulário, pronúncia, morfologia, sintaxe).
Normas
urbanas de prestígio
são as variedades que, em um país com a diversidade linguística do Brasil,
gozam de maior prestígio político, social e cultural. São utilizadas em
contextos formais de fala e escrita.
Preconceito
linguístico é o
julgamento negativo que é feito dos falantes em função da variedade linguística
que utilizam.
1. Faça uma
descrição na sequência dos acontecimentos dos três quadrinhos.
2. A moça teve
uma reação inesperada, por quê?
3. Por que a moça
fica tão chocada?
4. A atitude da moça
sugere o modo das pessoas avaliarem as diferentes maneiras de falar? Justifique
sua resposta.
(Fuvest - SP) Leia este texto:
A correção da língua é um artificialismo, continuei
episcopalmente. O natural é a incorreção. Note que a gramática só se atreve a
meter o bico quando escrevemos. Quando falamos, afasta-se para longe, de
orelhas murchas.
(Monteiro Lobato,
Prefácios e entrevistas)
5. O autor Monteiro Lobato, no fragmento acima demonstra uma
opinião. Partindo desse ponto de vista pode-se concluir que a língua falada é
desprovida de regras? Justifique sua resposta brevemente.
Variedade Linguística (3º EM A, B e C)
TEXTO: SER POLIGLOTA NA PRÓPRIA LÍNGUA
Evanildo Bechara
O professor
dizia:
“Isso está
errado, isso não se diz”.
Como ‘não se
diz’? A criança repete o que ouve. Seus pais só dizem isso, e são advogados,
professoras primárias...
O outro erro
era:
“Isso não é português”.
Ora, se não é
português, tem que ser outra língua, francês, inglês, alemão...
São dois
erros de pedagogia. O professor de hoje reconhece que o aluno vem com a sua modalidade linguística. Uma língua que
só tem uma modalidade é um a língua morta.
O ideal é que
o aluno seja poliglota na própria língua, que ele aprenda o maior numero de
realidade da sua língua e até a língua padrão, porque senão vai cometer vários
erros de tradução na própria língua . Como a historia do sujeito que foi para o
Rio grande do Sul. Quando chegou ao Paraná, leu em uma placa: Atenção,
tartarugas nas estradas. Ele disse para mulher:
“Eu vou
diminuir a marcha. A primeira tartaruga que aparecer, você apanha e a gente
leva de souvenir”.
Atravessou o
Paraná, Santa Catarina, e nada de tartaruga. Só depois descobriu que tartaruga
é quebra-mola. Claro que todas essas normas de correção, próprias de cada
variedade, tem seu limite: a propriedade
do texto. Se você constrói um texto que é uma carta intima a um amigo, tem
possibilidade de utilizar construções que não estão apoiadas nem documentadas
pelas normas da língua padrão. Mas a natureza do termo é que leva a isso. Essa
realidade existe em todas as obrigações sociais. Quando a gente recebe um
convite para uma festa, está la no convite: traje passeio, ou esporte, ou a
rigor. O que é isso?É que existe uma etiqueta
social. A língua padrão é a etiqueta cultural. Um tipo de modalidade que não é
para usar todos os dias.
Há pessoas
até que exageram, e resultado é que normalmente não são entendidas. Tenho um
amigo professor de português, que só fala a língua exemplar, padrão. Uma vez
saindo do Pedro II, foi assaltado.
Gritou, e não apareceu ninguém. Ele ficou aborrecidíssimo. Voltou ao Pedro II e
reclamou.
“Mas você não
gritou? Não pediu socorro?”, perguntaram.
“Eu gritei,
mas não apareceu ninguém!”
“Mas o que
você disse?
“Eu gritei
‘Peguem-no!Perguem-no!’”
O limite é a adequação.
Vocabulário
Modalidade: Forma, característica.
Souvenir: objeto característico de um lugar, lembrança.
Propriedade: particularidade, adequação.
Etiqueta: conjunto de normas de conduta do convívio social.
Pedro II: tradicional colégio do Rio de Janeiro, criado em 1837.
Adequação: conveniência.
Para entender o texto
1.
O uso de uma língua varia segundo a época, a região,
a classe social, a idade, o grau de escolaridade etc. Com base nessa
constatação, qual a principal recomendação do professor Bechara?
2.
A maneira como falamos ou escrevemos também
varia em função da pessoa a quem nos dirigimos e do tipo de relação formal ou
informal, exigida pela situação. Que exemplo da etiqueta social o professor
utiliza para fazer um paralelo com essa afirmação?
3.
Com que outra expressão o professor se refere,
no último parágrafo, à língua padrão?
4.
A que conclusão chega o professor sobre a língua
padrão ao compará-la com as normas de conduta da etiqueta social?
5.
O que quis dizer o professor com a frase “O
limite é a adequação”, em referência à maneira de falarmos e escrevermos?
Romantismo - 2º EMC
ROMANTISMO
Conheces o país onde florescem as laranjeiras?
Ardem na escura fronde os frutos de ouro...
Conhecê-lo? – Para lá, para lá, quisera eu ir.
Goethe (*)
POEMA: CANÇÃO DO EXÍLIO
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso Céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossas vidas mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar – sozinho, à noite –
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
(Gonçalves Dias)
(*) A epígrafe desse poema –
traduzida por Manuel Bandeira – foi retirada da balada “Mignon”, do alemão
Johann Wolfgang Von Goethe (1749 – 1832), um dos maiores representantes do
Romantismo europeu.
Coimbra, julho de 1843.
Cismar: pensar com insistência.
Primor: beleza, encanto.
Entendendo o texto
1.
O poema se constrói com a oposição aqui
(Coimbra, o lugar do exílio) e lá (o Brasil, a pátria distante). O
que fica explícito nessa comparação?
2.
O olhar do poeta ora se volta para os céus da
pátria (estrelas), ora para o solo (flores). Que elemento pode ser considerado
como intermediário entre esses dois modos de olhar?
3.
De que maneira o poeta expressa o seu sentimento
nacionalista?
4.
Para o poeta, a pátria distante é plural, o que é expresso pela repetição
do advérbio mais. Em que verso o
poeta expressa que essa natureza plural acaba
por contagiar a maneira de viver e de ser romântica?
5.
Transcreva, em seu caderno, os versos do poema
que podem ilustrar os seguintes sentimentos:
a) Desilusão.
b) Encantamento.
6.
No poema, o eu lírico compara a terra natal com
a terra onde está exilado. Que elementos são utilizados nessa comparação?
a) Sociais.
b) Naturais.
c) Econômicos.
d) Políticos.
“O Mágico de OZ” - capítulos I, II, V. VII e VII (9º ano)
Leitura dirigida:
LITERATURA INFANTIL
O Mágico de Oz, lançado em 1900 foi um livro inovador, editado com 24
cores cujas matizes mudavam de acordo com o lugar da história. Por exemplo,
Kansas: cinza. Cidade das Esmeraldas: verde. E mais: as vinhetas ilustrativas
entravam na área do texto. Para a época a formatação representava um avanço
fabuloso no avanço do designer gráfico.
I - O CICLONE
DOROTHY Gale
vivia feliz com os tios, Henry e Ema, no coração do território do Kansas, nos
Estados Unidos. A casa, feita de madeira, tinha apenas um cômodo grande.
Dentro, um velho fogão a carvão, um guarda-comida, uma mesa, quatro tamboretes,
a cama de casal e um estrado para Dorothy. Não havia uma flor, um ornato. O
único livro era a velha Bíblia. Numa das paredes, o retrato de Tia Ema ao lado
do marido, tirado no dia do casamento. Acinzentado pela ação do tempo, mas
ainda dava a ideia de como eram jovens e belos. Com dezoito anos, ela prendia
entre os dedos um pequeno buquê de flores campestres.
Tia Ema
envelhecera em pouco tempo. Com o sol e o vento castigando seu rosto perdeu o
rubor dos lábios e das faces, a pele acinzentou-se. Os cabelos, que eram
arruivados, ficaram brancos. Sempre enrolados sobre a nuca, presos por um
antigo pente de tartaruga. Quando Dorothy foi morar no Kansas, levou muito
tempo para se acostumar com a jovialidade da sobrinha, mas desde o início
admirava a menina por ser tão alegre em lugar tão triste, tão cinza.
Como também
mostra a fotografia, tio Henry era bem apessoado nos seus vinte anos, o rosto
liso e, pegado ao nariz, apenas um bigodinho ralo. Ocorridos 50 anos,
transformou-se num senhor pesado, sobrancelhudo e barbudo que passava o dia
fumando um cigarrinho de palha, continuamente preso entre os dentes. Vestido
com um surrado macacão de lona, que só tirava para lavar, assim como as botas
de couro, sujas de tanto pelejar no estábulo, tinha orgulho de morar no Kansas.
Dorothy tinha
doze anos. Mocinha de pele clara e olhos de um azul polar encantador. Os
cabelos, amarelos como cachos de trigo, feitos em duas longas tranças eram a
paixão da tia Ema. Forte e cheia, ela vivia apertada num vestido puído de
chita. Sua única diversão era brincar com Totó, um cãozinho bastante alegre,
sempre ao seu lado.
Na casa, não
havia sótão nem porão. Só um enorme buraco cavado no chão, onde a família se
abrigava durante os furacões. Um buraco anticiclones, como dizia tio Henry. Para
se esconder ali, desciam pelo alçapão num canto do cômodo.
Em torno da
morada, destacava a extensa campina acinzentada, coberta por relva com as
extremidades de suas hastes torradas pelo sol. Nada de árvores, nada de verde,
tudo muito árido. Nenhuma vila, nem mesmo uma casa vizinha. Tudo era cinzento,
inclusive a casa de tio Henry. Pintada há tempos de branco, tornou-se cinzenta
e melancólica, como tudo em volta.
Certo dia, o
céu amanheceu carregado, mais cinza. O vento arrastava ondas de capim para
todos os lados, um barulho ensurdecedor. Tio Henry, sentado na soleira da porta
estava a horas examinando o mau tempo. Em pé, ao seu lado, Dorothy com o Totó
nos braços, também olhava o céu, enquanto tia Ema, lá na pia, lavava louças. De
repente, tio Henry levanta-se e observa:
- Mau sinal,
gente, vejam a cólera dos deuses! Como essas coisas da natureza não têm hora
para acontece, acho que vem aí um ciclone – e virando-se para a mulher - Ema,
tome conta da garota que vou cuidar dos bichos.
O velho corre
para o curral, já berrando pelo nome os animais. Tia Ema, assustada com a
violência do vento, larga o trabalho, e desce para o esconderijo, gritando:
- Dorothy!...
Dorothy!... Depressa, menina, corra para cá.
Totó escapa
dos braços de Dorothy e se esconde debaixo da cama. A menina tenta agarrá-lo,
suplicando:
- Totó, venha
cá. Depressa, seu maluquinho!
Quando
Dorothy finalmente segura o cachorro e seguia em direção ao abrigo, uma rajada
de vento abala tudo com violência, mal dando para aguentar. A casa desprende-se
do chão, rodopia duas vezes no ar e, como um balão, começa a voar.
- Trem mais
esquisito! – murmura a menina, quase morrendo de medo.
Dorothy sem
saber como agir, acha melhor ficar quietinha num canto da casa. Totó latia
feito doido correndo sem parar de um lado para o outro. Passava tão perto da
portinhola aberta para o sótão que, de repente, foi tragado pelo vento para
fora da casa.
A menina
entra em desespero. Chora e grita pelo cão, imaginando que pouco ou nada
poderia fazer pelo amigo. Mas, logo se anima ao avistar as orelhas de Totó
aparecendo e desaparecendo na boca do alçapão - a forte pressão do vento fazia
o corpo do animal flutuar. Imediatamente, limpa as lágrimas com a costa das
mãos, engatinha-se até ele, pega firme em suas orelhas e puxa-o para dentro de
sua casa flutuante. Feliz, aperta o cão no colo e pula para a cama, pensando
ser um lugar mais seguro para viajarem em condições misteriosas, sozinhos mundo
afora.
- Que susto,
hein?
Agarradinha a
Totó acaba adormecendo, apesar do balanço da casa e do barulho do vento.
II - O PAPO COM OS ANÕES
Desperta
Dorothy com o choque da casa pousando no solo, tão brusco e repentino. Não
fosse a maciez do colchão, teria se machucado. Totó, que dormia esparramado ao
longo do leito, salta para o assoalho latindo.
- Psiuuu! –
expressa Dorothy, meio espantada.
Senta-se na
cama, desconfiada. Mas logo fica encantada com um risco de luz do sol, entrando
pela fresta da janela. Pula para o chão. Abre a porta e depara com uma bela
paisagem na sua frente.
- Meu deus, é
o paraíso!... Ai, nem acredito no que estou vendo.
Era mesmo uma
visão maravilhosa diante dos seus olhos!... Logo na porta de casa descia um
pomar de dar água na boca, produzindo laranjas, goiabas, pêssegos e
jabuticabas. Abaixo, reluzia um riacho sereno, cortando extenso campo florido.
Um sonho!... Dorothy, acostumada com a planície seca, desértica e cinzenta do
Kansas, se deslumbra com o colorido das flores, o canto dos pássaros e o
sussurro melodioso das águas do regato.
Enquanto
admirava a beleza do lugar, avista quatro anões que vinham ao seu encontro.
Totó começa a latir. Dorothy ralha com ele:
- Psiu!...
Quieto, amor.
O cão obedece
e fica da porta, com os olhinhos pretos bem atentos, espreitando aquela gente
esquisita: três velhos e uma mulher de cabelos grisalhos, trajando uma túnica
estampada com estrelinhas que faiscavam ao sol. Todos usavam chapéus redondos
terminando em bico, com mais de trinta centímetros acima da cabeça.
Dependurados nas abas, um monte de sininhos que tilintavam ao menor movimento.
Sorrindo, a
mulher faz reverência a Dorothy:
- Bem-vinda à
Terra dos Anões, ilustre Bruxa!
Dorothy
assustada, dá dois passos atrás.
- Aham! O
quê?!...
- Não se
acanhe. Parabéns por ter acabado com a Bruxa Malvada do Leste. Seu gesto de
coragem libertou nosso povo da escravidão.
A garota,
ainda sem entender:
- Eu!... Deve
haver engano, minha senhora. Nunca matei nem um mosquitinho de nada!
- Não há
engano nenhum.
- Juro. Não
matei ninguém. Nem sou Bruxa.
- Bem, se não
foi você, foi sua casa. Dá no mesmo.
A velha anã
insiste:
- Veja,
existem dois pés aparecendo por baixo daquela viga que sustenta a casa.
Dorothy
arredonda os olhos de espanto.
- Santo
Deus!... Quem é?
- A Bruxa
Malvada do Leste – repete a mulher.
- Trem
esquisito!... Não tenho culpa, foi um acidente. A casa caiu em cima da coitada.
Mas...
- Não se
preocupe. Ela era má. Dominou os anões por longos anos. Livres, querem
agradecer a você.
- Quem são
eles?
- Os
habitantes desse lugar.
- A Senhora é
a rainha deles?
- Não, apenas
amiga. Ao saber da morte da Bruxa Malvada do Leste, corri para cá. Sou a Bruxa
do Norte.
- Bruxa!...
Bruxa de verdade?
- Sim. Mas,
sou uma Bruxa boa. O povo me adora.
- Se é boa
não é bruxa, é uma Fada.
- Prefere me
chamar assim?
- Ã-hã.
- Sou pouco
menos poderosa do que a Bruxa Malvada, que acaba de morrer. Agora, existe
apenas uma Bruxa má na Terra de Oz.
- Sério?
- Sério.
- Cadê a
outra? – quis saber Dorothy.
- Vive muito
longe daqui. É a Bruxa Malvada do Oeste.
- Ela é tão
má assim?
- Nem lhe
conto!
- Quantas
Bruxas boas ainda existem por aqui?
- Duas. A
Bruxa do Norte e a do Sul.
- Que bom que
você é uma delas.
- Sim –
responde a outra com uma pitada de orgulho.
Dorothy pensa
um pouco e revela:
-
Engraçado!... Tia Ema sempre me disse que as bruxas más morreram há muito
tempo.
- Quem é tia
Ema?
- Mora no
Kansas, o lugar de onde venho.
- É uma terra
civilizada?
- Sim,
senhora
- Ah, então é
por isso!... Nos lugares civilizados não há mais bruxas, nem fadas. Muito menos
mágicos, ou feiticeiras.
- Mágico eu
garanto que tem – se apressa a menina.
- Aposto que
não são verdadeiros. Mágicos de circo são mágicos de mentirinha, só para
enganar.
- É?
- No Reino de
Oz, sim, ainda há bruxas e mágicos de verdade. Oz é o mais poderoso de todos.
Habita a Cidade das Esmeraldas.
Dorothy ia
fazer uma pergunta, quando um dos anões grita e aponta o dedo para a casa.
- O que foi?
– apressa a Bruxa, curiosa.
- A Bruxa
Malvada do Leste desapareceu – mostra o homenzinho.
A Bruxa do
Norte dá uma gargalhada:
- Coitada!...
Era tão velha que logo se evaporou no ar. Ficou apenas seu par de sapatos de
prata.
Assim
falando, ela caminha até a Bruxa morta. Recolhe os calçados, sopra a poeira e
os entrega a Dorothy, dizendo:
- Agora,
minha pequena, eles são seus. Podem ser úteis um dia.
- São
poderosos, viu? – interveio um dos Anões.
A garota
agradece o presente e leva os sapatos de prata para dentro da casa. Retorna num
instante e pergunta:
- Podem me
ajudar a encontrar o caminho de volta para casa? Tia Ema e tio Henry, sozinhos
no mundo, devem estar preocupados comigo.
Os anões e a
Bruxa entreolham-se, balançando negativamente a cabeça. Um deles garante:
- Impossível
atravessar o deserto pelo leste.
- A mesma
coisa acontece no sul – alerta o outro.
- Ao norte
fica minha região – explica a Bruxa. O deserto é tão grande e quente que impede
qualquer um de chegar ao outro lado.
- Meu
Deus!...
- A oeste,
também não dá. A Bruxa malvada faria de você escrava para sempre – previne o
terceiro anão.
Pausa. Bruxa
do Norte:
- Você
poderia viver com a gente – sugere a Bruxa, rindo.
- Não posso,
preciso voltar ao Kansas – lamenta a menina.
- Então por
que veio parar aqui?
- Conhecer
lugares, pessoas e culturas são alguns bons motivos para se planejar uma
viagem, mas não foi o meu caso. Estou aqui por força de um ciclone que me
arrancou do lugar que eu morava e me trouxe para cá com o Totó.
- Entendo.
Dorothy, como se atingida por um novo
ciclone, começa a soluçar com medo de não poder voltar para casa. Suas lágrimas
comovem os anões.
- Não chore,
garota – pede um deles em tom de consolo. - Acho que a Bruxa do Norte pode
ajudá-la. Adora tanto as crianças que, em nossa cidade, quando passa pelas ruas
nossos filhos correm para ela. Gostam de receber o carinho de suas mãos macias
e ouvir de seus lábios historinhas encantadoras do mundo encantado das bruxas.
A Bruxa
bondosa, também comovida, começa a andar de um lado para o outro com as mãos
entrelaçadas atrás das costas. De repente, para. Puxa a ponta do chapéu para
junto do nariz e começa a contar:
- Um!...
Dois!... Três!...
Surpreendentemente
seu chapéu vira um quadro negro. Onde se lê:
MOSTRE A DOROTHY O CAMINHO DA CIDADE DAS
ESMERALDAS
A Bruxa retira o quadro do nariz. E pergunta:
- Seu nome é
Dorothy?
- Sim –
confirma a menina, enxugando as lágrimas com a manga do vestido.
- O Mágico de
Oz pode ajudar você a voltar para casa.
- Quem é
mesmo Oz?
- Um mágico
poderoso, o rei da Cidade das Esmeraldas.
- Como posso
chegar lá?
- Caminhando
por aquela estrada pavimentada de pedras amarelas – mostra a Bruxa.
- A senhora vai
comigo?
- Não, não
posso. Mas, vou protegê-la. Fique tranquila. Ninguém lhe fará mal.
- O caminho é
perigoso?
- Um pouco.
Mas...
A Bruxa toma
Dorothy pelos braços e dá-lhe um beijo, deixando a marca redonda e cintilante
na sua testa. E ensina:
- Quando
encontrar Oz não tenha medo nem banque a boba. Conte-lhe a sua história e peça
ajuda. Boa sorte! Adeus, querida!
Mal acaba de
falar, rodopia três vezes sobre o pé esquerdo e desaparece no espaço. Os três
anões se despedem também, saindo em disparada. Totó late bem alto. Dorothy acha
normal a bruxa desaparecer daquele jeito. Nas historinhas isso acontece.
E, por um
momento, pensa lá com seus botões: desembarcar só com o Totó, em um lugar tão
estranho, parece à primeira vista, um pesadelo. Mas, pelo que estou vendo, pode
ser uma aventura fantástica!... Quantas surpresas podem ter até chegarmos à
Cidade das Esmeraldas?
V - O HOMEM DE LATA
Quando
Dorothy acordou, o sol ia alto. Totó perseguia os pássaros e os esquilos, se
divertindo como nunca.
- Precisamos
buscar água – lembra Dorothy.
- Para quê? –
pergunta o Espantalho.
- Uai!...
Para beber. Lavar o rosto, também.
- Ainda bem
que não preciso disso.
– Nós de
carne e osso, sim. Precisamos comer uma comida saudável, dormir um bom sono e
beber água potável todo dia.
- Potável!...
O que é isso?
- Água limpa
e pura, própria para o consumo.
- Bem, então
vamos a busca de água para você e o Totó.
Imediatamente,
os três deixam a cabana e andam pela floresta até encontrar um regato de água
límpida. Dorothy lava o rosto, escova os dentes e senta-se numa pedra para
merendar com Totó. De repende, escuta um gemido agonizante.
- Que será
isso? – pergunta a menina, apreensiva.
- Nem
imagino, parece que vem daquele lado.
Escutam outro
gemido, mais dolorido.
- Vamos lá
para averiguar – dispõe Dorothy.
Totó sai na
frente, latindo. A menina e o Espantalho seguem atrás. Poucos metros adiante
avistam um homem deitado ao lado de uma árvore tombada. Aproximam-se e viram
que ele era feito de lata e estava completamente imóvel, segurando numa das
mãos o machado, como se estivesse encantado por uma bruxa.
- Bom dia,
rapaz – cumprimenta Dorothy.
- Bom dia,
menina – responde o Homem de Lata, gentilmente.
- Você que
gemeu ainda a pouco?
- Sim. Há
mais de um ano faço isso, mas ninguém aparece para me socorrer.
- Podemos
ajudá-lo?
- Pode, sim.
Busque a lata de óleo na minha cabana e lubrifique minhas juntas, estão
enferrujadas. Depois disso, ficarei bom novamente.
Dorothy corre
à casa do homem de lata, justamente, onde passou a noite com o Espantalho e
Totó, e volta com a lata de óleo.
- Começo por
onde? – pergunta.
- Pelo
pescoço – pede o homem de lata.
A menina
lubrifica todas as articulações do seu pescoço. Estava tão emperrado que o
Espantalho foi obrigado a pegar a cabeça do homem de lata, movê-la lentamente
de um lado para o outro, até voltar a funcionar sozinha. Em seguida, foi a vez
das juntas dos braços e das pernas.
Livre da
ferrugem, o homem de lata suspira com alívio:
- Obrigado.
Sem ajuda de vocês, passaria o resto da vida nesse lugar, totalmente
imobilizado.
- Não se
preocupe. Faríamos isso para qualquer um numa situação desta.
- Belo gesto,
menina. Qual o seu nome?
- Dorothy. E
o seu?
- Quando era
de carne e osso, chamava Tonhão. Depois que fui reconstruído com folha de
flandres, o pessoal começou a me chamar de Homem de Lata.
- Então era
de carne e osso?
- Ã-hã.
- Aposto que
foi encantado pela bruxa má!
- Mais ou
menos. Depois, eu explico como aconteceu para vocês.
- Adoro ouvir
histórias.
- Pois então,
Dorothy, vai gostar de minha. Agora, me conta o que fazem por aqui?
- Vamos à
Cidade das Esmeraldas para falar com o grande Mágico de Oz.
- Para quê?
- Quero
voltar ao Kansas. O Espantalho vai pedir um cérebro a ele.
O Homem de
Lata, depois de pensar um instante:
- Não tenho
coração. Será que Oz me daria um?
- Acho que
sim. Seria tão fácil como dar cérebro ao Espantalho.
- É verdade!
– concorda o Homem de Lata. – Posso acompanhá-los?
Depois de
ficar um instante em silencio, surpreendida com a pergunta, Dorothy responde:
- É claro.
E sem esperar
a opinião do Espantalho, ela emenda:
- Vai ser bom
ter mais um em no nosso grupo. A união faz a força, não é mesmo?
Totó rosna
mostrando certo ciúme. E o boneco de palha balança a cabeça, anuindo.
O Homem de
Lata agradece. Apoia o machado no seu ombro e os quatro partem para a Cidade
das Esmeraldas numa conversa animada. Não andaram muito e o Espantalho leva o
primeiro tombo do dia, tropeçando numa pedra no meio do caminho.
- Por que não
pulou a pedra? – quis saber o novo companheiro de jornada.
- Não tenho
cérebro. No lugar dele, apenas palhas. Por isso não raciocino direito.
- Ah, é!...
- Espero
ganhar um cérebro de Oz.
Pausa. O
Homem de Lata:
- Para mim,
cérebro tem pouca importância.
- Isso porque
você deve ter um bom cérebro – apressa o Espantalho.
- Não. Minha
cabeça é completamente oca. Mas já tive cérebro e coração. Por ter
experimentado os dois, prefiro mil vezes o coração.
- Uai, por
quê?
- É uma longa
história.
- Prometeu
contar para nós – recorda Dorothy.
- Sim, já que
insistem. Sempre fui uma criatura de espírito rústico e selvagem, filho de um
casal de lenhadores. Com esse temperamento forte só a longo prazo é que
conseguia agradar aos outros, mesmo assim se quem me contemplava tivesse ao
menos um grão de indulgência.
- É mesmo? –
pergunta Dorothy, surpresa.
- Foi o que
aconteceu com uma bonita jovem da minha aldeia. Rapaz novo e inquieto logo me
apaixonei pela donzela. E, como vi que ela também ficou caída de amores por
mim, combinamos casar o mais rápido possível. Mas, quando ela disse à sua velha
patroa, com quem trabalhava há muitos anos, que ia se casar e mudar para outra
cidade, o pior aconteceu.
- Aconteceu o
quê? – pergunta o Espantalho preocupado.
- Vendo que a
criada ia sair de sua casa, a senhora procurou a Bruxa Malvada e ofereceu duas
ovelhas e uma vaca para impedir nosso casamento.
Nesse ponto
da história, o Homem de Lata faz uma pausa, como se estivesse colocando as
ideias em ordem. E continua:
- Não deu
outra, a Bruxa Malvada enfeitiçou meu machado. Um dia, quando trabalhava, a
ferramenta escapuliu de minhas mãos e cortou-me a perna esquerda. Tive que ir a
um funileiro para improvisar outra perna. De lata, é claro. Ficou tão boa
quanto de carne e osso. A Bruxa, ao saber da nova perna, não se conteve e me
castigou de novo.
- Como assim?
– pergunta Dorothy, ansiosa.
-
Acreditem!... Mal voltei ao trabalho, da mesma forma o machado decepou minha
perna direita – o funileiro outra vez quebrou meu galho. Depois, fiquei sem os
braços – mais uma vez o funileiro colocou em mim braços de lata.
E depois de
um suspiro:
- Mesmo
assim, acham que a Bruxa Malvada me deixou em paz?
Ele mesmo
responde:
- Minha
filha, a Bruxa não me dava trégua. Tiririca de raiva ordenou ao machado que me
arrancasse a cabeça e partisse meu corpo em pedaços. Pela quarta vez, o bom
funileiro me reconstituiu tudo em folha de flandres.
Dorothy
admirada:
-
Impressiona-me a habilidade desse funileiro!
- Um gênio.
Como sabia que o corpo humano é uma máquina desenhada para os movimentos, ele
dotou-me de dobradiças ligadas a centenas de fios resistentes e elásticos, que
fazem o papel dos músculos. É esse
sistema de alta complexidade que permite deslocar meu corpo para qualquer
direção. Entende?
- Entendo.
- Mas, para a
minha tristeza, ele não fez coração! Sem coração, perdi todo o amor pela minha
namorada. Então, desmanchei o noivado.
Dorothy leva
uma das mãos à boca, admirada:
- Você perdeu
uma das coisas mais importantes da vida, o amor. Sem ele, é como se você
tivesse um corpo sem alma.
O Homem de
Lata abaixa a cabeça, dizendo:
- Você tem
razão. Por outro lado, passei a sentir orgulho do meu novo corpo de metal.
Agora, resistente ao golpe de machado e, em dias de sol, brilha que é uma
beleza.
- Legal.
- Hoje, só
temo a ferrugem. Alerta máxima!... Por isso, ando sempre com uma lata de óleo
para lubrificar minhas juntas.
- Por que
quer um coração?
- Ora!...
Pretendo me apaixonar de novo – afirma Homem de Lata, irradiado por uma alegria
súbita.
Dorothy, com
olhinhos úmidos, fica toda emocionada com a história que acabara de ouvir.
VI - O LEÃO MEDROSO
Dorothy e
seus novos amigos seguem com dificuldade pela estrada mal conservada, suja de
galhos e de folhas secas esparramadas pelo vento. Não se via nem um pássaro
fugaz, cortando o céu em seu voo brusco, muito menos plantações de milho ou
trigo, ou um animal nos campos. Mais parecia uma terra de ninguém.
De repente, o
urro de um animal selvagem, vindo do mato, faz o Espantalho tremer de medo.
Totó, com rabo encolhido entre as pernas, corre para junto a Dorothy, sem
latir, pressentindo o perigo.
- Meu Deus,
será que falta muito para chegarmos à Cidade das Esmeraldas? – questiona
intrigada Dorothy.
- Não faço a
menor ideia – adianta o Homem de Lata.
- Nem eu –
afirma o Espantalho.
- Queria
saber.
- Bem,
Dorothy, papai esteve lá uma vez. Voltou reclamando muito da lonjura e por ser
uma região muito perigosa, embora afirmasse ser tudo muito bonito na cidade de
Oz – garante o Homem de Lata.
- Estou com
medo.
- Bobagens,
amiga!... Você está resguardada pelo encanto da Bruxa do Bem que, certamente,
protegerá sua vida de todo mal.
- Eu, sim. O
Totó não. Isso é o que mais me preocupa.
- Puxa calma,
querida. Em caso de perigo, tomarei conta dele – dispõe-se o Homem de Lata.
Nesse
instante, rugindo na maior altura, um Leão gigante salta para o meio da
estrada. Furioso, aproxima-se do grupo e, de cara, dá uma patada no Espantalho,
jogando o boneco indefeso para cima de uma pequena árvore seca. Não contente,
faz o mesmo com o Homem de Lata que, com a violência do ataque, vai parar com
alguns amassados na lataria do outro lado da estrada. Uma catástrofe!...
Totó late
nervoso, ameaçando a fera. O Leão, ao ver o tamanho do inimigo, logo se estende
na estrada e abre a imensa boca, ameaçando a engolir o cãozinho. Dorothy, ao
perceber o perigo, avança e acerta um tremendo tapa bem no meio do focinho do
felino.
- Covarde!...
Covarde!...
O Leão recua
um pouco, apreensivo. Dorothy, mais brava:
- Absurdo e
totalmente selvagem, inacreditável. Um monstro desse tamanho querendo abocanhar
um animal inocente como o Totó. Deveria se envergonhar, besta!
- Bolas, eu
não fiz nada com o seu cachorrinho – nega o Leão, esfregando o focinho com a
pata.
- Não mordeu,
mas queria. Você é um covarde, viu?
- Ah, isso eu
sei! – concorda o gatuno, envergonhado.
- Covarde e
metido a besta!... – esgoela o Homem de Lata de onde estava.
Dorothy,
ainda muito irritada:
- Espancar um
homem de palha? Que vergonha, meu Deus!
- Por isso
que é tão leve assim – surpreende-se o Leão ao ver a menina colocar o boneco de
pé.
- Sim, de
palha – repete Dorothy.
– Por isso
que saiu voando para cima daquele arbusto.
- Sim. Aposto
que nem percebeu se trata de um espantalho de pássaros.
- O outro
também é de palha?
- Não. De
lata – confirma a menina, também, enquanto ajudava o Homem de Lata a se
levantar.
- Hummm...
Então é por isso que não se machucou com minha patada.
- Ainda bem.
- Por que
esse cãozinho continua latindo para mim?
- Ele quer me
proteger, é claro. Totó é meu animal de estimação.
- De lata ou
de palha?
- Nenhuma das
duas coisas. Ele é um cachorro de carne e osso, como eu e você.
- Tão
pequeno, não é mesmo?
- Sim.
Pequeno e delicado, mas muito respeitoso.
A fera do
mato reflete por um minuto. Logo demonstra passar do selvagem ao humano:
- Só mesmo um
covarde como eu para atacar um bichinho tão inofensivo!
Dorothy, já
demonstrando pena do Leão:
- Por que se
diz um leão covarde?
- Nasci
assim, apesar do meu temeroso rugido. Na floresta, por onde passo, todos os
animais correm de mim, achando que sou o Rei dos Animais, mas não sou nada
disso. Quando um urso, um touro ou um homem me enfrenta, eu fujo de medo. Logo,
me dei conta de que sou mesmo um leão covarde.
- Não
acredito! O Rei dos Animais não pode ser tão covarde assim – critica o
Espantalho, já recuperado do susto.
Risos.
Dorothy:
- No Kansas,
casos assim, a gente fala que sofrem com a síndrome de filho do meio: quer se
rebelar, mas não tem coragem para tanto.
Ao ouvir
isso, o felino abaixa a cabeça em silêncio. Com a ponta do rabo enxuga algumas
lágrimas que brotavam de seus olhos. Depois, solta um urro triste e doído, e
confessa:
- Sou um leão
medroso, não vou negar. Meu coração dispara ao menor perigo.
- Pode ser um
problema de saúde – pressupõe o Homem de Lata.
- Quem é que
sabe?
- Você tem
cérebro? – procura saber o Espantalho.
- Claro que
sim.
- Eu não. Na
minha cabeça, em vez de miolos tem palhas. Por isso mesmo que estamos indo para
a Cidade das Esmeraldas. Eu vou pedir a Oz um cérebro.
- E eu um
coração – atalha o Homem de Lata, em tom melancólico.
Dorothy,
apressada:
- E que ele
me mande de volta ao Kansas.
O Leão franze
a testa, interessado:
- Será que o
Grande Oz me daria um pouco de coragem?
- Acho que
sim!... – anima Dorothy.
- Então,
posso seguir viagem com vocês?
- Seria muito
bem-vindo – aplaude o Espantalho. – Pode nos dar proteção, assustando outras
feras que surgirem no nosso caminho.
- Eu!...
- Bem, o papo
está bom, mas temos que dar o fora daqui o quanto antes, porque são muitos os
desafios pela frente – alerta Dorothy.
O Leão, todo
satisfeito, passa para o lado de Dorothy e grupo retoma a caminhada com mais
entusiasmo. A princípio, Totó não
agradou desse novo companheiro, porque não podia esquecer que quase foi vítima
de seus enormes dentes, mas logo viu que se tratava de um animal dócil.
A viagem
seguia tranquila até que o Homem de Lata, sem querer, esmagou com os pés um
pequeno besouro. Chocado com o imprevisto, quase morre de remorso. Chora tanto
que as lágrimas enferrujaram as juntas dos seus maxilares. Por isso mesmo, foi
preciso uma boa dose de óleo para reuntá-las.
- Que isto me
sirva de lição. Para evitar perigos, a gente deve caminhar com atenção o tempo
todo, passos firmes e o olhar atento para ver por onde pisa – reconhece o Homem
de Lata, assim que pode falar novamente.
VII - TODOS A CAMINHO DA CIDADE DAS
ESMERALDAS
Naquela
noite, os viajantes foram obrigados a acampar debaixo de uma árvore frondosa. O
Homem de Lata acendeu uma fogueira com galhos secos para aquecer os
companheiros de carne e osso. Em torno do fogaréu, Dorothy e Totó comeram o
último pedaço de pão.
- Não se
preocupe, se quiser posso caçar um preá para você assar na fogueira – sugere o
Leão.
- Esqueça,
não precisa. Prefiro comida vegetal – adianta Dorothy.
- Melhor –
apoia o Espantalho.
Temendo que uma fagulha caísse em sua palha,
ele sai pela redondeza para colher nozes para Dorothy e seu cachorrinho. O
Leão, por sua vez, corre para o meio da floresta à procura de bom jantar. O que
comeu, não disse a ninguém.
Ao amanhecer,
o grupo retoma a jornada rumo à Cidade das Esmeraldas. A viagem corria bem, até
encontrarem um abismo separando a estrada em duas partes. Era tão fundo e com
barrancos tão íngremes que nenhum dos viajantes mostrou coragem para descer e
chegar do outro lado.
- Que vamos
fazer? – pergunta Dorothy, aflita.
- Não tenho a
menor ideia – responde o Homem de Lata.
O Leão sacode
a juba, pensativo. Com os olhos atentos e cara de quem estava avaliando,
mentalmente, a distância de uma margem à outra, admite:
- Posso pular
para o outro lado.
- Então está tudo
resolvido. Você leva nas costas um de cada vez – aplaude o Espantalho, mais
alegre.
- Boa ideia.
Mais vale arriscar que voltar, não é mesmo?
- Siiiimmm –
gritam todos ao mesmo tempo.
- Quem é o
primeiro?
- Eu –
levanta o braço o Espantalho.
- Então vamos.
O homem de
palha pula para as costas do Leão. A enorme fera chega até a beira do abismo,
toma impulso e dá um salto com tanta força que alcança com sucesso o outro lado
do despenhadeiro. Depois, o felino faz o mesmo com Dorothy e Totó e,
finalmente, com o Homem de Lata. E ai, livres do abismo, o grupo reinicia a
marcha pela estrada de pedras amarelas.
Mal andam uma
centena de metros, eles escutam um ruído distante, como se fosse um urro
selvagem, vindo da floresta, cada vez mais sombria. Dorothy assustada:
- Que rugido
é esse?
- São os
Kalidás - esclarece o Leão.
- Kalidás!...
Quem são eles?
- Nunca os
vi. Dizem que tem corpo de urso e cabeça de tigre.
Dorothy,
escondendo o rosto com as mãos, meio desolada:
- Santo
Deus!...
- Feras
enormes, do tamanho de cem cachorrinhos enrolados num só. Possuem as garras
afiadíssimas. Se eles nos alcançar pode ocorrer uma tragédia atrás da outra.
- Cruz
credo!... - a garota faz o sinal da cruz.
Quando o Leão
ia falar mais sobre as feras misteriosas, a turma depara com outro abismo
cruzando a estrada. Dessa vez, muito mais largo muito mais profundo, impossível
dele saltar mesmo para um felino.
Dorothy,
depois de ficar um bom tempo estudando a região, dá seu palpite:
- Vejam bem
que aquela árvore seca, ali na beira do despenhadeiro, está para cair a
qualquer hora. Se o Homem de Lata derrubá-la, de modo que fique atravessada ao
longo do abismo, passaremos sem risco como se fosse uma ponte improvisada.
- Isso mesmo
– concordam os amigos.
Imediatamente,
o Homem de Lata pega o machado e, em pouco tempo, a árvore range e tomba sobre
o abismo, ligando as duas partes da estrada. Contentes com o trabalho do
lenhador, os amigos começaram a fazer a travessia. Mas, antes de alcançarem o
outro lado, viram que as feras misteriosas continuavam na perseguição deles.
- Corram,
corram!... São os Kalidás!... Temos que cruzar esse abismo o mais rápido
possível ou estaremos perdidos - urra o Leão, já sentindo as pernas bambas.
- Com mil
raios! – exclama o Espantalho, assustadíssimo.
Dorothy, com
Totó agarrado ao colo, pede a Deus que ajude a todos naquele momento de horror.
Acelerando os passos, foi a primeira a pisar do outro lado da estrada. Logo
atrás vieram o Homem de Lata e o Espantalho. Por último, o Leão que, apesar do
medo, urrava sem parar numa tentativa de afugentar os Kalidás.
Nesse
momento, vendo todos salvos, o Homem de Lata pega o machado e corta a
extremidade da árvore, apoiada no barranco. Não deu outra: o tronco despencou
rápido, levando com ele os Kalidás para o fundo do abismo.
- Ufa!... –
suspira o Leão, mais aliviado.
A perigosa
aventura deixa o grupo ainda mais apreensivo para sair daquela floresta
desconhecida. Dorothy, muito cansada, monta no lombo do Leão, e prossegue a
viagem pela estrada de pedras amarelas. Agora, para alegria de todos, cortava
campos verdejantes e pontilhados de flores coloridas até chegarem às margens de
um rio largo.
Surpresa,
Dorothy pergunta:
- Será esse o
rio da Cidade das Esmeraldas?
- Deve ser.
Toda cidade tem o seu rio – imagina o Leão.
- Como faremos
para atravessá-lo?
O Leão já
estava com a resposta na ponta da língua:
- Muito
fácil, através de uma embarcação. O Homem de Lata construirá uma balsa que nos
levará até o outro lado do rio.
Sugestão
apoiada por todos. O Homem de Lata não perdeu mais tempo. Em pouco tempo
escolheu, entre os troncos de árvores derrubadas pelo vento na região, madeira
ideal para fazer uma embarcação segura. O Espantalho, muito feliz, logo saiu
para colher frutas gostosas para Dorothy e Totó, enjoados de comer nozes.
Quando caiu a
noite, os viajantes de carne e osso, quase mortos de cansaço, escolheram o
aconchego de uma árvore bem copada para dormir ali mesmo, embalados por um
ventinho gostoso e repousante, que chegava lentamente do rio.
Dorothy até
sonhou que o bondoso Mágico de Oz a levava de volta para o Kansas ao encontro
dos seus bondosos tios.
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