segunda-feira, 25 de maio de 2020

A Moreninha - Literatura (2º EMC)

Assista a resenha do livro "A Moreninha" de Joaquim Manuel de Macedo



Após assistir ao vídeo, faça as anotações no caderno.

A Moreninha - capítulo I e III





Assista aos capítulo I e III de "A Moreninha" - Joaquim Manuel de Macedo

Atividade - Periodização Literária (1º EM C e D)




ATIVIDADE


1.       O que nos permite agrupar a produção literária de determinado período histórico?




2.       O que é estilo individual?


3.       A literatura brasileira começa no período Barroco. Que ouros estilos temos depois deste?



4.       Como se classificam as eras na:


a)      Literatura Portuguesa?


a)      Literatura Brasileira? 


Literatura - Periodização Literária (1º EM C e D)


Para leitura do conteúdo e posterior resolução de atividade.

LITERATURA

PERIODIZAÇÃO LITERÁRIA

Estilos de Época

Na literatura, os Estilos de Época (também chamadas de Escolas Literárias ou Movimentos Literários) representam o conjunto de procedimentos estéticos que caracterizam a produção literária de determinado período histórico.
Estão concentrados a partir de características semelhantes entre as obras dos produtores literários, nesse caso, os escritores.
Em outras palavras, os estilos de época surgem na medida em que os processos artísticos individuais se tornam repetitivos e constantes.
São assinalados por determinada época histórica de acordo com seus valores estéticos e ideológicos, criando assim, uma geração de escritores e consequentemente, de obras literárias que apresentam características semelhantes.

Estilo Individual

O Estilo Individual ou Estilo Pessoal designa o modo particular utilizado por cada escritor na composição de suas obras.
Ou seja, representa o conjunto de características estilísticas ou temáticas (na forma ou no conteúdo da construção poética), o qual fora incluído numa determinada escola literária, de acordo com a época vivida (contexto-histórico) ou até mesmo pelas características que ressaltam em sua obra.
Dessa maneira, podemos pensar no escritor Machado de Assis (1839-1908) que está inserido no movimento romântico e realista, uma vez que suas obras contém características de ambas escolas.

Estilos de Época na Literatura Brasileira e Portuguesa

Antes de mais nada, importante salientar que toda a produção literária foi dividida didaticamente em “Eras ou Épocas”.
Dentro delas, surgem as “Escolas, Movimentos ou Correntes”, as quais representam um período histórico determinado, repleto de escritores e obras, que possuem semelhanças estilísticas e temáticas e compartilham estilos e visão de mundo.
Note que qualquer obra literária apresenta marcas do contexto em que foi produzida, seja na esfera social, política, cultural ou ideológica da época em questão.

Na Literatura de Portugal, as Eras são classificadas em: Medieval, Clássica e Moderna, sendo que dentro de cada uma há um conjunto de movimentos literários.
Destarte, na Era Medieval estão reunidos os movimentos literários do Trovadorismo (1189) e do Humanismo (1418).
Por conseguinte, na Era Clássica encontram-se as escolas: Classicismo (1527), Barroco (1580) e o Arcadismo (1756).
Por fim, na Era Moderna, também denominada de Era Romântica, estão os movimentos: Romantismo (1825), Realismo-Naturalismo (1865), Simbolismo (1890) e Modernismo (1915).

Por sua vez, a Literatura Brasileira é formada por duas Eras: Colonial e Nacional.
Assim, na Era Colonial estão reunidas as escolas literárias do Quinhentismo (1500), Barroco (1601) e Arcadismo (1768).
Já na Era Nacional estão: o Romantismo (1836), Realismo/Naturalismo/Parnasianismo (1881), Simbolismo (1893), Pré-Modernismo (1902) e o Modernismo (1922).

Periodização da Literatura

A Periodização Literária representa o conjunto de eras e escolas literárias, agrupadas sistematicamente de forma a facilitar o estudo dos escritores e da arte literária.
Para tanto, a divisão das escolas literárias de Portugal e Brasil diferem na época em que cada uma começou a se desenvolver, entretanto, abrigam características semelhantes.
O conjunto de movimentos literários portugueses são: Trovadorismo, Humanismo, Classicismo, Barroco, Arcadismo, Romantismo, Realismo-Naturalismo, Simbolismo, Modernismo.
O conjunto de movimentos literários brasileiros são: Quinhentismo, Barroco, Arcadismo, Romantismo, Realismo, Naturalismo, Parnasianismo, Simbolismo, Pré-Modernismo e Modernismo.


Gênero resenha crítica (9º ano B)



Assista ao vídeo e faça as anotações no caderno.

Resenha de "O Mágico de Oz" (9º ano B)

Assista ao vídeo  da resenha de "O Mágico de  Oz"




Após assistir ao vídeo registre no seu caderno seu ponto de vista. 

1. Gostou da resenha? Você entendeu a resenha?

2. Quem fez a resenha falou tudo sobre a obra? 

3. O que você acrescentaria  que não foi abordado na resenha?


Concordância nominal - Atividade (7º ano B)


Atividade 5 – CONCORDÂNCIA NOMINAL
Leia este poema, de Chacal:

Papo de índio

Veiu uns ômi di saia preta
cheiu di caixinha e pó branco
qui eles disserum qui chamava açucri
Aí eles falarum e nós fechamu a cara
depois eles arrepetirum e nós fechamu o corpo
Aí eles insistirum e nós comemu eles.

(In: Heloísa de Holanda e Carlos. A.M. Pereira, orgs. Poesia jovem – Anos 70. SP: Nova Cultural, 1982. P.79.)


1.       O poema trata do relacionamento entre índios e brancos. Com base nas informações que ele apresenta, responda:

a)      Em que período da História do Brasil o episódio relatado pelo texto provavelmente aconteceu? Por quê?
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b)      Quem fala no poema? Quem são os “ômi di saia preta”?

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c)       Com que finalidade esses “ômi” carregavam caixinhas e açúcar?

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a)      Reescreva todo o texto na variedade padrão da língua. Se quiser, mantenha expressões como fechar a cara e fechar o corpo.

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b) Na nova redação dada ao texto, como ficaram as palavras “Veiu”, “cheiu” e “fechamu”? Por que elas sofreram modificação?

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2. O texto, apesar de escrito, apresenta algumas marcas da linguagem oral.

a) Identifique palavras ou expressões que tenham sido escritas exatamente como se fala, sem respeitar as normas da ortografia oficial.

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b) Identifique no texto dois procedimentos linguísticos que sejam próprios de relatos ou narrativas orais.

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c) Explique a relação entre o título e as marcas de oralidade do texto.

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3. Além das marcas de oralidade, o texto apresenta outras palavras e expressões que fogem a variedade padrão.







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4. Agora, pesquise na Internet:

Para que serve a concordância?

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5. Leia o poema e a seguir reescreva –o, fazendo a devida concordância das palavras entre parênteses.

Receita de acordar palavras

palavras são como estrelas
facas ou flores
elas têm raízes pétalas espinhos
são (liso) (áspero) (leve) ou (denso)
para acordá-(lo) basta um sopro
em sua alma
e como pássaros
vão encontrar seu caminho

(Roseana Murray)



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Variação linguística / música “Zaluzejo” - (3º EMC)

Assista ao vídeo com a música “Zaluzejo” de Teatro Mágico


terça-feira, 19 de maio de 2020

Variedades Linguísticas (3º ano A, B e C)


Variedade Linguística, Normas Urbanas de Prestígio e Preconceito Linguístico






Variedade linguística é cada um dos sistemas em que uma língua se diversifica, em função das possibilidades de variação de seus elementos (vocabulário, pronúncia, morfologia, sintaxe).

Normas urbanas de prestígio são as variedades que, em um país com a diversidade linguística do Brasil, gozam de maior prestígio político, social e cultural. São utilizadas em contextos formais de fala e escrita.

Preconceito linguístico é o julgamento negativo que é feito dos falantes em função da variedade linguística que utilizam.


1. Faça uma descrição na sequência dos acontecimentos dos três quadrinhos.

2. A moça teve uma reação inesperada, por quê?

3. Por que a moça fica tão chocada?

4. A atitude da moça sugere o modo das pessoas avaliarem as diferentes maneiras de falar? Justifique sua resposta.



(Fuvest - SP) Leia este texto:


A correção da língua é um artificialismo, continuei episcopalmente. O natural é a incorreção. Note que a gramática só se atreve a meter o bico quando escrevemos. Quando falamos, afasta-se para longe, de orelhas murchas.

(Monteiro Lobato, Prefácios e entrevistas)


5. O autor Monteiro Lobato, no fragmento acima demonstra uma opinião. Partindo desse ponto de vista pode-se concluir que a língua falada é desprovida de regras? Justifique sua resposta brevemente.

Variedade Linguística (3º EM A, B e C)


TEXTO: SER POLIGLOTA NA PRÓPRIA LÍNGUA

Evanildo Bechara

O professor dizia:
“Isso está errado, isso não se diz”.
Como ‘não se diz’? A criança repete o que ouve. Seus pais só dizem isso, e são advogados, professoras primárias...
O outro erro era:
“Isso não é português”.
Ora, se não é português, tem que ser outra língua, francês, inglês, alemão...
São dois erros de pedagogia. O professor de hoje reconhece que o aluno vem com a sua modalidade linguística. Uma língua que só tem uma modalidade é um a língua morta.
O ideal é que o aluno seja poliglota na própria língua, que ele aprenda o maior numero de realidade da sua língua e até a língua padrão, porque senão vai cometer vários erros de tradução na própria língua . Como a historia do sujeito que foi para o Rio grande do Sul. Quando chegou ao Paraná, leu em uma placa: Atenção, tartarugas nas estradas. Ele disse para mulher:
“Eu vou diminuir a marcha. A primeira tartaruga que aparecer, você apanha e a gente leva de souvenir”.
Atravessou o Paraná, Santa Catarina, e nada de tartaruga. Só depois descobriu que tartaruga é quebra-mola. Claro que todas essas normas de correção, próprias de cada variedade, tem seu limite: a propriedade do texto. Se você constrói um texto que é uma carta intima a um amigo, tem possibilidade de utilizar construções que não estão apoiadas nem documentadas pelas normas da língua padrão. Mas a natureza do termo é que leva a isso. Essa realidade existe em todas as obrigações sociais. Quando a gente recebe um convite para uma festa, está la no convite: traje passeio, ou esporte, ou a rigor. O que é isso?É que existe uma etiqueta social. A língua padrão é a etiqueta cultural. Um tipo de modalidade que não é para usar todos os dias.
Há pessoas até que exageram, e resultado é que normalmente não são entendidas. Tenho um amigo professor de português, que só fala a língua exemplar, padrão. Uma vez saindo do Pedro II, foi assaltado. Gritou, e não apareceu ninguém. Ele ficou aborrecidíssimo. Voltou ao Pedro II e reclamou.
“Mas você não gritou? Não pediu socorro?”, perguntaram.
“Eu gritei, mas não apareceu ninguém!”
“Mas o que você disse?
“Eu gritei ‘Peguem-no!Perguem-no!’”
O limite é a adequação.

Vocabulário

Modalidade: Forma, característica.
Souvenir: objeto característico de um lugar, lembrança.
Propriedade: particularidade, adequação.
Etiqueta: conjunto de normas de conduta do convívio social.
Pedro II: tradicional colégio do Rio de Janeiro, criado em 1837.
Adequação: conveniência.

Para entender o texto


1.       O uso de uma língua varia segundo a época, a região, a classe social, a idade, o grau de escolaridade etc. Com base nessa constatação, qual a principal recomendação do professor Bechara?

2.       A maneira como falamos ou escrevemos também varia em função da pessoa a quem nos dirigimos e do tipo de relação formal ou informal, exigida pela situação. Que exemplo da etiqueta social o professor utiliza para fazer um paralelo com essa afirmação?

3.       Com que outra expressão o professor se refere, no último parágrafo, à língua padrão?

4.       A que conclusão chega o professor sobre a língua padrão ao compará-la com as normas de conduta da etiqueta social?

5.       O que quis dizer o professor com a frase “O limite é a adequação”, em referência à maneira de falarmos e escrevermos?

Romantismo - poesia (2º EMC)

Romantismo - poesia


Assista ao vídeo e faça as anotações da aula.

Romantismo - 2º EMC


ROMANTISMO


Conheces o país onde florescem as laranjeiras?
Ardem na escura fronde os frutos de ouro...
Conhecê-lo? – Para lá, para lá, quisera eu ir.
Goethe (*)


POEMA: CANÇÃO DO EXÍLIO

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso Céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossas vidas mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar – sozinho, à noite –
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

(Gonçalves Dias)


(*) A epígrafe desse poema – traduzida por Manuel Bandeira – foi retirada da balada “Mignon”, do alemão Johann Wolfgang Von Goethe (1749 – 1832), um dos maiores representantes do Romantismo europeu.

Coimbra, julho de 1843.
Cismar: pensar com insistência.
Primor: beleza, encanto.



Entendendo o texto


1.       O poema se constrói com a oposição aqui (Coimbra, o lugar do exílio) e (o Brasil, a pátria distante). O que fica explícito nessa comparação?



2.       O olhar do poeta ora se volta para os céus da pátria (estrelas), ora para o solo (flores). Que elemento pode ser considerado como intermediário entre esses dois modos de olhar?


3.       De que maneira o poeta expressa o seu sentimento nacionalista?


4.       Para o poeta, a pátria distante é plural, o que é expresso pela repetição do advérbio mais. Em que verso o poeta expressa que essa natureza plural acaba por contagiar a maneira de viver e de ser romântica?

5.       Transcreva, em seu caderno, os versos do poema que podem ilustrar os seguintes sentimentos:

a)      Desilusão.

b)      Encantamento.

6.       No poema, o eu lírico compara a terra natal com a terra onde está exilado. Que elementos são utilizados nessa comparação?

a) Sociais.
b) Naturais.                       
c) Econômicos.
d) Políticos.

7. Use seu livro didático ou a Internet para pesquisar sobre as características da poesia romântica. Registre no seu caderno.


“O Mágico de OZ” - capítulos I, II, V. VII e VII (9º ano)

Leitura dirigida:


LITERATURA INFANTIL


O Mágico de Oz, lançado em 1900 foi um livro inovador, editado com 24 cores cujas matizes mudavam de acordo com o lugar da história. Por exemplo, Kansas: cinza. Cidade das Esmeraldas: verde. E mais: as vinhetas ilustrativas entravam na área do texto. Para a época a formatação representava um avanço fabuloso no avanço do designer gráfico.



I - O CICLONE

DOROTHY Gale vivia feliz com os tios, Henry e Ema, no coração do território do Kansas, nos Estados Unidos. A casa, feita de madeira, tinha apenas um cômodo grande. Dentro, um velho fogão a carvão, um guarda-comida, uma mesa, quatro tamboretes, a cama de casal e um estrado para Dorothy. Não havia uma flor, um ornato. O único livro era a velha Bíblia. Numa das paredes, o retrato de Tia Ema ao lado do marido, tirado no dia do casamento. Acinzentado pela ação do tempo, mas ainda dava a ideia de como eram jovens e belos. Com dezoito anos, ela prendia entre os dedos um pequeno buquê de flores campestres.
Tia Ema envelhecera em pouco tempo. Com o sol e o vento castigando seu rosto perdeu o rubor dos lábios e das faces, a pele acinzentou-se. Os cabelos, que eram arruivados, ficaram brancos. Sempre enrolados sobre a nuca, presos por um antigo pente de tartaruga. Quando Dorothy foi morar no Kansas, levou muito tempo para se acostumar com a jovialidade da sobrinha, mas desde o início admirava a menina por ser tão alegre em lugar tão triste, tão cinza.
Como também mostra a fotografia, tio Henry era bem apessoado nos seus vinte anos, o rosto liso e, pegado ao nariz, apenas um bigodinho ralo. Ocorridos 50 anos, transformou-se num senhor pesado, sobrancelhudo e barbudo que passava o dia fumando um cigarrinho de palha, continuamente preso entre os dentes. Vestido com um surrado macacão de lona, que só tirava para lavar, assim como as botas de couro, sujas de tanto pelejar no estábulo, tinha orgulho de morar no Kansas.
Dorothy tinha doze anos. Mocinha de pele clara e olhos de um azul polar encantador. Os cabelos, amarelos como cachos de trigo, feitos em duas longas tranças eram a paixão da tia Ema. Forte e cheia, ela vivia apertada num vestido puído de chita. Sua única diversão era brincar com Totó, um cãozinho bastante alegre, sempre ao seu lado.
Na casa, não havia sótão nem porão. Só um enorme buraco cavado no chão, onde a família se abrigava durante os furacões. Um buraco anticiclones, como dizia tio Henry. Para se esconder ali, desciam pelo alçapão num canto do cômodo.
Em torno da morada, destacava a extensa campina acinzentada, coberta por relva com as extremidades de suas hastes torradas pelo sol. Nada de árvores, nada de verde, tudo muito árido. Nenhuma vila, nem mesmo uma casa vizinha. Tudo era cinzento, inclusive a casa de tio Henry. Pintada há tempos de branco, tornou-se cinzenta e melancólica, como tudo em volta.
Certo dia, o céu amanheceu carregado, mais cinza. O vento arrastava ondas de capim para todos os lados, um barulho ensurdecedor. Tio Henry, sentado na soleira da porta estava a horas examinando o mau tempo. Em pé, ao seu lado, Dorothy com o Totó nos braços, também olhava o céu, enquanto tia Ema, lá na pia, lavava louças. De repente, tio Henry levanta-se e observa:
- Mau sinal, gente, vejam a cólera dos deuses! Como essas coisas da natureza não têm hora para acontece, acho que vem aí um ciclone – e virando-se para a mulher - Ema, tome conta da garota que vou cuidar dos bichos.
O velho corre para o curral, já berrando pelo nome os animais. Tia Ema, assustada com a violência do vento, larga o trabalho, e desce para o esconderijo, gritando:
- Dorothy!... Dorothy!... Depressa, menina, corra para cá.
Totó escapa dos braços de Dorothy e se esconde debaixo da cama. A menina tenta agarrá-lo, suplicando:
- Totó, venha cá. Depressa, seu maluquinho!
Quando Dorothy finalmente segura o cachorro e seguia em direção ao abrigo, uma rajada de vento abala tudo com violência, mal dando para aguentar. A casa desprende-se do chão, rodopia duas vezes no ar e, como um balão, começa a voar.
- Trem mais esquisito! – murmura a menina, quase morrendo de medo.
Dorothy sem saber como agir, acha melhor ficar quietinha num canto da casa. Totó latia feito doido correndo sem parar de um lado para o outro. Passava tão perto da portinhola aberta para o sótão que, de repente, foi tragado pelo vento para fora da casa.
A menina entra em desespero. Chora e grita pelo cão, imaginando que pouco ou nada poderia fazer pelo amigo. Mas, logo se anima ao avistar as orelhas de Totó aparecendo e desaparecendo na boca do alçapão - a forte pressão do vento fazia o corpo do animal flutuar. Imediatamente, limpa as lágrimas com a costa das mãos, engatinha-se até ele, pega firme em suas orelhas e puxa-o para dentro de sua casa flutuante. Feliz, aperta o cão no colo e pula para a cama, pensando ser um lugar mais seguro para viajarem em condições misteriosas, sozinhos mundo afora.
- Que susto, hein?
Agarradinha a Totó acaba adormecendo, apesar do balanço da casa e do barulho do vento.

II - O PAPO COM OS ANÕES

Desperta Dorothy com o choque da casa pousando no solo, tão brusco e repentino. Não fosse a maciez do colchão, teria se machucado. Totó, que dormia esparramado ao longo do leito, salta para o assoalho latindo.
- Psiuuu! – expressa Dorothy, meio espantada.
Senta-se na cama, desconfiada. Mas logo fica encantada com um risco de luz do sol, entrando pela fresta da janela. Pula para o chão. Abre a porta e depara com uma bela paisagem na sua frente.
- Meu deus, é o paraíso!... Ai, nem acredito no que estou vendo.
Era mesmo uma visão maravilhosa diante dos seus olhos!... Logo na porta de casa descia um pomar de dar água na boca, produzindo laranjas, goiabas, pêssegos e jabuticabas. Abaixo, reluzia um riacho sereno, cortando extenso campo florido. Um sonho!... Dorothy, acostumada com a planície seca, desértica e cinzenta do Kansas, se deslumbra com o colorido das flores, o canto dos pássaros e o sussurro melodioso das águas do regato.
Enquanto admirava a beleza do lugar, avista quatro anões que vinham ao seu encontro. Totó começa a latir. Dorothy ralha com ele:
- Psiu!... Quieto, amor.
O cão obedece e fica da porta, com os olhinhos pretos bem atentos, espreitando aquela gente esquisita: três velhos e uma mulher de cabelos grisalhos, trajando uma túnica estampada com estrelinhas que faiscavam ao sol. Todos usavam chapéus redondos terminando em bico, com mais de trinta centímetros acima da cabeça. Dependurados nas abas, um monte de sininhos que tilintavam ao menor movimento.
Sorrindo, a mulher faz reverência a Dorothy:
- Bem-vinda à Terra dos Anões, ilustre Bruxa!
Dorothy assustada, dá dois passos atrás.
- Aham! O quê?!...
- Não se acanhe. Parabéns por ter acabado com a Bruxa Malvada do Leste. Seu gesto de coragem libertou nosso povo da escravidão.
A garota, ainda sem entender:
- Eu!... Deve haver engano, minha senhora. Nunca matei nem um mosquitinho de nada!
- Não há engano nenhum.
- Juro. Não matei ninguém. Nem sou Bruxa.
- Bem, se não foi você, foi sua casa. Dá no mesmo.
A velha anã insiste:
- Veja, existem dois pés aparecendo por baixo daquela viga que sustenta a casa.
Dorothy arredonda os olhos de espanto.
- Santo Deus!... Quem é?
- A Bruxa Malvada do Leste – repete a mulher.
- Trem esquisito!... Não tenho culpa, foi um acidente. A casa caiu em cima da coitada. Mas...
- Não se preocupe. Ela era má. Dominou os anões por longos anos. Livres, querem agradecer a você.
- Quem são eles?
- Os habitantes desse lugar.
- A Senhora é a rainha deles?
- Não, apenas amiga. Ao saber da morte da Bruxa Malvada do Leste, corri para cá. Sou a Bruxa do Norte.
- Bruxa!... Bruxa de verdade?
- Sim. Mas, sou uma Bruxa boa. O povo me adora.
- Se é boa não é bruxa, é uma Fada.
- Prefere me chamar assim?
- Ã-hã.
- Sou pouco menos poderosa do que a Bruxa Malvada, que acaba de morrer. Agora, existe apenas uma Bruxa má na Terra de Oz.
- Sério?
- Sério.
- Cadê a outra? – quis saber Dorothy.
- Vive muito longe daqui. É a Bruxa Malvada do Oeste.
- Ela é tão má assim?
- Nem lhe conto!
- Quantas Bruxas boas ainda existem por aqui?
- Duas. A Bruxa do Norte e a do Sul.
- Que bom que você é uma delas.
- Sim – responde a outra com uma pitada de orgulho.
Dorothy pensa um pouco e revela:
- Engraçado!... Tia Ema sempre me disse que as bruxas más morreram há muito tempo.
- Quem é tia Ema?
- Mora no Kansas, o lugar de onde venho.
- É uma terra civilizada?
- Sim, senhora
- Ah, então é por isso!... Nos lugares civilizados não há mais bruxas, nem fadas. Muito menos mágicos, ou feiticeiras.
- Mágico eu garanto que tem – se apressa a menina.
- Aposto que não são verdadeiros. Mágicos de circo são mágicos de mentirinha, só para enganar.
- É?
- No Reino de Oz, sim, ainda há bruxas e mágicos de verdade. Oz é o mais poderoso de todos. Habita a Cidade das Esmeraldas.
Dorothy ia fazer uma pergunta, quando um dos anões grita e aponta o dedo para a casa.
- O que foi? – apressa a Bruxa, curiosa.
- A Bruxa Malvada do Leste desapareceu – mostra o homenzinho.
A Bruxa do Norte dá uma gargalhada:
- Coitada!... Era tão velha que logo se evaporou no ar. Ficou apenas seu par de sapatos de prata.
Assim falando, ela caminha até a Bruxa morta. Recolhe os calçados, sopra a poeira e os entrega a Dorothy, dizendo:
- Agora, minha pequena, eles são seus. Podem ser úteis um dia.
- São poderosos, viu? – interveio um dos Anões.
A garota agradece o presente e leva os sapatos de prata para dentro da casa. Retorna num instante e pergunta:
- Podem me ajudar a encontrar o caminho de volta para casa? Tia Ema e tio Henry, sozinhos no mundo, devem estar preocupados comigo.
Os anões e a Bruxa entreolham-se, balançando negativamente a cabeça. Um deles garante:
- Impossível atravessar o deserto pelo leste.
- A mesma coisa acontece no sul – alerta o outro.
- Ao norte fica minha região – explica a Bruxa. O deserto é tão grande e quente que impede qualquer um de chegar ao outro lado.
- Meu Deus!...
- A oeste, também não dá. A Bruxa malvada faria de você escrava para sempre – previne o terceiro anão.
Pausa. Bruxa do Norte:
- Você poderia viver com a gente – sugere a Bruxa, rindo.
- Não posso, preciso voltar ao Kansas – lamenta a menina.
- Então por que veio parar aqui?
- Conhecer lugares, pessoas e culturas são alguns bons motivos para se planejar uma viagem, mas não foi o meu caso. Estou aqui por força de um ciclone que me arrancou do lugar que eu morava e me trouxe para cá com o Totó.
      - Entendo.
       Dorothy, como se atingida por um novo ciclone, começa a soluçar com medo de não poder voltar para casa. Suas lágrimas comovem os anões.
- Não chore, garota – pede um deles em tom de consolo. - Acho que a Bruxa do Norte pode ajudá-la. Adora tanto as crianças que, em nossa cidade, quando passa pelas ruas nossos filhos correm para ela. Gostam de receber o carinho de suas mãos macias e ouvir de seus lábios historinhas encantadoras do mundo encantado das bruxas.
A Bruxa bondosa, também comovida, começa a andar de um lado para o outro com as mãos entrelaçadas atrás das costas. De repente, para. Puxa a ponta do chapéu para junto do nariz e começa a contar:
- Um!... Dois!... Três!...
Surpreendentemente seu chapéu vira um quadro negro. Onde se lê:
 MOSTRE A DOROTHY O CAMINHO DA CIDADE DAS ESMERALDAS
 A Bruxa retira o quadro do nariz. E pergunta:
- Seu nome é Dorothy?
- Sim – confirma a menina, enxugando as lágrimas com a manga do vestido.
- O Mágico de Oz pode ajudar você a voltar para casa.
- Quem é mesmo Oz?
- Um mágico poderoso, o rei da Cidade das Esmeraldas.
- Como posso chegar lá?
- Caminhando por aquela estrada pavimentada de pedras amarelas – mostra a Bruxa.
- A senhora vai comigo?
- Não, não posso. Mas, vou protegê-la. Fique tranquila. Ninguém lhe fará mal.
- O caminho é perigoso?
- Um pouco. Mas...
A Bruxa toma Dorothy pelos braços e dá-lhe um beijo, deixando a marca redonda e cintilante na sua testa. E ensina: 
- Quando encontrar Oz não tenha medo nem banque a boba. Conte-lhe a sua história e peça ajuda. Boa sorte! Adeus, querida!
Mal acaba de falar, rodopia três vezes sobre o pé esquerdo e desaparece no espaço. Os três anões se despedem também, saindo em disparada. Totó late bem alto. Dorothy acha normal a bruxa desaparecer daquele jeito. Nas historinhas isso acontece.
E, por um momento, pensa lá com seus botões: desembarcar só com o Totó, em um lugar tão estranho, parece à primeira vista, um pesadelo. Mas, pelo que estou vendo, pode ser uma aventura fantástica!... Quantas surpresas podem ter até chegarmos à Cidade das Esmeraldas?

V - O HOMEM DE LATA

Quando Dorothy acordou, o sol ia alto. Totó perseguia os pássaros e os esquilos, se divertindo como nunca.
- Precisamos buscar água – lembra Dorothy.
- Para quê? – pergunta o Espantalho.
- Uai!... Para beber. Lavar o rosto, também.
- Ainda bem que não preciso disso.
– Nós de carne e osso, sim. Precisamos comer uma comida saudável, dormir um bom sono e beber água potável todo dia.
- Potável!... O que é isso?
- Água limpa e pura, própria para o consumo.
- Bem, então vamos a busca de água para você e o Totó.
Imediatamente, os três deixam a cabana e andam pela floresta até encontrar um regato de água límpida. Dorothy lava o rosto, escova os dentes e senta-se numa pedra para merendar com Totó. De repende, escuta um gemido agonizante.
- Que será isso? – pergunta a menina, apreensiva.
- Nem imagino, parece que vem daquele lado.
Escutam outro gemido, mais dolorido.
- Vamos lá para averiguar – dispõe Dorothy.
Totó sai na frente, latindo. A menina e o Espantalho seguem atrás. Poucos metros adiante avistam um homem deitado ao lado de uma árvore tombada. Aproximam-se e viram que ele era feito de lata e estava completamente imóvel, segurando numa das mãos o machado, como se estivesse encantado por uma bruxa.
- Bom dia, rapaz – cumprimenta Dorothy.
- Bom dia, menina – responde o Homem de Lata, gentilmente.
- Você que gemeu ainda a pouco?
- Sim. Há mais de um ano faço isso, mas ninguém aparece para me socorrer.
- Podemos ajudá-lo?
- Pode, sim. Busque a lata de óleo na minha cabana e lubrifique minhas juntas, estão enferrujadas. Depois disso, ficarei bom novamente.
Dorothy corre à casa do homem de lata, justamente, onde passou a noite com o Espantalho e Totó, e volta com a lata de óleo.
- Começo por onde? – pergunta.
- Pelo pescoço – pede o homem de lata.
A menina lubrifica todas as articulações do seu pescoço. Estava tão emperrado que o Espantalho foi obrigado a pegar a cabeça do homem de lata, movê-la lentamente de um lado para o outro, até voltar a funcionar sozinha. Em seguida, foi a vez das juntas dos braços e das pernas.
Livre da ferrugem, o homem de lata suspira com alívio:
- Obrigado. Sem ajuda de vocês, passaria o resto da vida nesse lugar, totalmente imobilizado.
- Não se preocupe. Faríamos isso para qualquer um numa situação desta.
- Belo gesto, menina. Qual o seu nome?
- Dorothy. E o seu?
- Quando era de carne e osso, chamava Tonhão. Depois que fui reconstruído com folha de flandres, o pessoal começou a me chamar de Homem de Lata.
- Então era de carne e osso?
- Ã-hã.
- Aposto que foi encantado pela bruxa má!
- Mais ou menos. Depois, eu explico como aconteceu para vocês.
- Adoro ouvir histórias.
- Pois então, Dorothy, vai gostar de minha. Agora, me conta o que fazem por aqui?
- Vamos à Cidade das Esmeraldas para falar com o grande Mágico de Oz.
- Para quê?
- Quero voltar ao Kansas. O Espantalho vai pedir um cérebro a ele.
O Homem de Lata, depois de pensar um instante:
- Não tenho coração. Será que Oz me daria um?
- Acho que sim. Seria tão fácil como dar cérebro ao Espantalho.
- É verdade! – concorda o Homem de Lata. – Posso acompanhá-los?
Depois de ficar um instante em silencio, surpreendida com a pergunta, Dorothy responde:
- É claro.
E sem esperar a opinião do Espantalho, ela emenda:
- Vai ser bom ter mais um em no nosso grupo. A união faz a força, não é mesmo?
Totó rosna mostrando certo ciúme. E o boneco de palha balança a cabeça, anuindo.
O Homem de Lata agradece. Apoia o machado no seu ombro e os quatro partem para a Cidade das Esmeraldas numa conversa animada. Não andaram muito e o Espantalho leva o primeiro tombo do dia, tropeçando numa pedra no meio do caminho.
- Por que não pulou a pedra? – quis saber o novo companheiro de jornada.
- Não tenho cérebro. No lugar dele, apenas palhas. Por isso não raciocino direito.
- Ah, é!...
- Espero ganhar um cérebro de Oz.
Pausa. O Homem de Lata:
- Para mim, cérebro tem pouca importância.
- Isso porque você deve ter um bom cérebro – apressa o Espantalho.
- Não. Minha cabeça é completamente oca. Mas já tive cérebro e coração. Por ter experimentado os dois, prefiro mil vezes o coração.
- Uai, por quê?
- É uma longa história.
- Prometeu contar para nós – recorda Dorothy.
- Sim, já que insistem. Sempre fui uma criatura de espírito rústico e selvagem, filho de um casal de lenhadores. Com esse temperamento forte só a longo prazo é que conseguia agradar aos outros, mesmo assim se quem me contemplava tivesse ao menos um grão de indulgência.
- É mesmo? – pergunta Dorothy, surpresa.
- Foi o que aconteceu com uma bonita jovem da minha aldeia. Rapaz novo e inquieto logo me apaixonei pela donzela. E, como vi que ela também ficou caída de amores por mim, combinamos casar o mais rápido possível. Mas, quando ela disse à sua velha patroa, com quem trabalhava há muitos anos, que ia se casar e mudar para outra cidade, o pior aconteceu.
- Aconteceu o quê? – pergunta o Espantalho preocupado.
- Vendo que a criada ia sair de sua casa, a senhora procurou a Bruxa Malvada e ofereceu duas ovelhas e uma vaca para impedir nosso casamento.
Nesse ponto da história, o Homem de Lata faz uma pausa, como se estivesse colocando as ideias em ordem. E continua:
- Não deu outra, a Bruxa Malvada enfeitiçou meu machado. Um dia, quando trabalhava, a ferramenta escapuliu de minhas mãos e cortou-me a perna esquerda. Tive que ir a um funileiro para improvisar outra perna. De lata, é claro. Ficou tão boa quanto de carne e osso. A Bruxa, ao saber da nova perna, não se conteve e me castigou de novo.
- Como assim? – pergunta Dorothy, ansiosa.
- Acreditem!... Mal voltei ao trabalho, da mesma forma o machado decepou minha perna direita – o funileiro outra vez quebrou meu galho. Depois, fiquei sem os braços – mais uma vez o funileiro colocou em mim braços de lata.
E depois de um suspiro:
- Mesmo assim, acham que a Bruxa Malvada me deixou em paz?
Ele mesmo responde:
- Minha filha, a Bruxa não me dava trégua. Tiririca de raiva ordenou ao machado que me arrancasse a cabeça e partisse meu corpo em pedaços. Pela quarta vez, o bom funileiro me reconstituiu tudo em folha de flandres.
Dorothy admirada:
- Impressiona-me a habilidade desse funileiro!
- Um gênio. Como sabia que o corpo humano é uma máquina desenhada para os movimentos, ele dotou-me de dobradiças ligadas a centenas de fios resistentes e elásticos, que fazem o papel dos músculos.  É esse sistema de alta complexidade que permite deslocar meu corpo para qualquer direção. Entende?
- Entendo.
- Mas, para a minha tristeza, ele não fez coração! Sem coração, perdi todo o amor pela minha namorada. Então, desmanchei o noivado.
Dorothy leva uma das mãos à boca, admirada:
- Você perdeu uma das coisas mais importantes da vida, o amor. Sem ele, é como se você tivesse um corpo sem alma.
O Homem de Lata abaixa a cabeça, dizendo:
- Você tem razão. Por outro lado, passei a sentir orgulho do meu novo corpo de metal. Agora, resistente ao golpe de machado e, em dias de sol, brilha que é uma beleza.
- Legal.
- Hoje, só temo a ferrugem. Alerta máxima!... Por isso, ando sempre com uma lata de óleo para lubrificar minhas juntas.
- Por que quer um coração?
- Ora!... Pretendo me apaixonar de novo – afirma Homem de Lata, irradiado por uma alegria súbita.
Dorothy, com olhinhos úmidos, fica toda emocionada com a história que acabara de ouvir.

VI - O LEÃO MEDROSO

Dorothy e seus novos amigos seguem com dificuldade pela estrada mal conservada, suja de galhos e de folhas secas esparramadas pelo vento. Não se via nem um pássaro fugaz, cortando o céu em seu voo brusco, muito menos plantações de milho ou trigo, ou um animal nos campos. Mais parecia uma terra de ninguém.
De repente, o urro de um animal selvagem, vindo do mato, faz o Espantalho tremer de medo. Totó, com rabo encolhido entre as pernas, corre para junto a Dorothy, sem latir, pressentindo o perigo.
- Meu Deus, será que falta muito para chegarmos à Cidade das Esmeraldas? – questiona intrigada Dorothy.
- Não faço a menor ideia – adianta o Homem de Lata.
- Nem eu – afirma o Espantalho.
- Queria saber.
- Bem, Dorothy, papai esteve lá uma vez. Voltou reclamando muito da lonjura e por ser uma região muito perigosa, embora afirmasse ser tudo muito bonito na cidade de Oz – garante o Homem de Lata.
- Estou com medo.
- Bobagens, amiga!... Você está resguardada pelo encanto da Bruxa do Bem que, certamente, protegerá sua vida de todo mal.
- Eu, sim. O Totó não. Isso é o que mais me preocupa. 
- Puxa calma, querida. Em caso de perigo, tomarei conta dele – dispõe-se o Homem de Lata.
Nesse instante, rugindo na maior altura, um Leão gigante salta para o meio da estrada. Furioso, aproxima-se do grupo e, de cara, dá uma patada no Espantalho, jogando o boneco indefeso para cima de uma pequena árvore seca. Não contente, faz o mesmo com o Homem de Lata que, com a violência do ataque, vai parar com alguns amassados na lataria do outro lado da estrada. Uma catástrofe!...
Totó late nervoso, ameaçando a fera. O Leão, ao ver o tamanho do inimigo, logo se estende na estrada e abre a imensa boca, ameaçando a engolir o cãozinho. Dorothy, ao perceber o perigo, avança e acerta um tremendo tapa bem no meio do focinho do felino.
- Covarde!... Covarde!...
O Leão recua um pouco, apreensivo. Dorothy, mais brava:
- Absurdo e totalmente selvagem, inacreditável. Um monstro desse tamanho querendo abocanhar um animal inocente como o Totó. Deveria se envergonhar, besta!
- Bolas, eu não fiz nada com o seu cachorrinho – nega o Leão, esfregando o focinho com a pata.
- Não mordeu, mas queria. Você é um covarde, viu?
- Ah, isso eu sei! – concorda o gatuno, envergonhado.
- Covarde e metido a besta!... – esgoela o Homem de Lata de onde estava.
Dorothy, ainda muito irritada:
- Espancar um homem de palha? Que vergonha, meu Deus!
- Por isso que é tão leve assim – surpreende-se o Leão ao ver a menina colocar o boneco de pé.
- Sim, de palha – repete Dorothy.
– Por isso que saiu voando para cima daquele arbusto.
- Sim. Aposto que nem percebeu se trata de um espantalho de pássaros.
- O outro também é de palha?
- Não. De lata – confirma a menina, também, enquanto ajudava o Homem de Lata a se levantar.
- Hummm... Então é por isso que não se machucou com minha patada.
- Ainda bem.
- Por que esse cãozinho continua latindo para mim?
- Ele quer me proteger, é claro. Totó é meu animal de estimação.
- De lata ou de palha?
- Nenhuma das duas coisas. Ele é um cachorro de carne e osso, como eu e você.
- Tão pequeno, não é mesmo?
- Sim. Pequeno e delicado, mas muito respeitoso.
A fera do mato reflete por um minuto. Logo demonstra passar do selvagem ao humano:
- Só mesmo um covarde como eu para atacar um bichinho tão inofensivo!
Dorothy, já demonstrando pena do Leão:
- Por que se diz um leão covarde?
- Nasci assim, apesar do meu temeroso rugido. Na floresta, por onde passo, todos os animais correm de mim, achando que sou o Rei dos Animais, mas não sou nada disso. Quando um urso, um touro ou um homem me enfrenta, eu fujo de medo. Logo, me dei conta de que sou mesmo um leão covarde.
- Não acredito! O Rei dos Animais não pode ser tão covarde assim – critica o Espantalho, já recuperado do susto.
Risos. Dorothy:
- No Kansas, casos assim, a gente fala que sofrem com a síndrome de filho do meio: quer se rebelar, mas não tem coragem para tanto.
Ao ouvir isso, o felino abaixa a cabeça em silêncio. Com a ponta do rabo enxuga algumas lágrimas que brotavam de seus olhos. Depois, solta um urro triste e doído, e confessa:
- Sou um leão medroso, não vou negar. Meu coração dispara ao menor perigo.
- Pode ser um problema de saúde – pressupõe o Homem de Lata.
- Quem é que sabe?
- Você tem cérebro? – procura saber o Espantalho.
- Claro que sim.
- Eu não. Na minha cabeça, em vez de miolos tem palhas. Por isso mesmo que estamos indo para a Cidade das Esmeraldas. Eu vou pedir a Oz um cérebro.
- E eu um coração – atalha o Homem de Lata, em tom melancólico.
Dorothy, apressada:
- E que ele me mande de volta ao Kansas.
O Leão franze a testa, interessado:
- Será que o Grande Oz me daria um pouco de coragem?
- Acho que sim!... – anima Dorothy.
- Então, posso seguir viagem com vocês?
- Seria muito bem-vindo – aplaude o Espantalho. – Pode nos dar proteção, assustando outras feras que surgirem no nosso caminho.
- Eu!...
- Bem, o papo está bom, mas temos que dar o fora daqui o quanto antes, porque são muitos os desafios pela frente – alerta Dorothy.
O Leão, todo satisfeito, passa para o lado de Dorothy e grupo retoma a caminhada com mais entusiasmo.  A princípio, Totó não agradou desse novo companheiro, porque não podia esquecer que quase foi vítima de seus enormes dentes, mas logo viu que se tratava de um animal dócil.
A viagem seguia tranquila até que o Homem de Lata, sem querer, esmagou com os pés um pequeno besouro. Chocado com o imprevisto, quase morre de remorso. Chora tanto que as lágrimas enferrujaram as juntas dos seus maxilares. Por isso mesmo, foi preciso uma boa dose de óleo para reuntá-las.
- Que isto me sirva de lição. Para evitar perigos, a gente deve caminhar com atenção o tempo todo, passos firmes e o olhar atento para ver por onde pisa – reconhece o Homem de Lata, assim que pode falar novamente.
VII - TODOS A CAMINHO DA CIDADE DAS ESMERALDAS
Naquela noite, os viajantes foram obrigados a acampar debaixo de uma árvore frondosa. O Homem de Lata acendeu uma fogueira com galhos secos para aquecer os companheiros de carne e osso. Em torno do fogaréu, Dorothy e Totó comeram o último pedaço de pão.
- Não se preocupe, se quiser posso caçar um preá para você assar na fogueira – sugere o Leão.
- Esqueça, não precisa. Prefiro comida vegetal – adianta Dorothy.
- Melhor – apoia o Espantalho.
 Temendo que uma fagulha caísse em sua palha, ele sai pela redondeza para colher nozes para Dorothy e seu cachorrinho. O Leão, por sua vez, corre para o meio da floresta à procura de bom jantar. O que comeu, não disse a ninguém.
Ao amanhecer, o grupo retoma a jornada rumo à Cidade das Esmeraldas. A viagem corria bem, até encontrarem um abismo separando a estrada em duas partes. Era tão fundo e com barrancos tão íngremes que nenhum dos viajantes mostrou coragem para descer e chegar do outro lado.
- Que vamos fazer? – pergunta Dorothy, aflita.
- Não tenho a menor ideia – responde o Homem de Lata.
O Leão sacode a juba, pensativo. Com os olhos atentos e cara de quem estava avaliando, mentalmente, a distância de uma margem à outra, admite:
- Posso pular para o outro lado.
- Então está tudo resolvido. Você leva nas costas um de cada vez – aplaude o Espantalho, mais alegre.
- Boa ideia. Mais vale arriscar que voltar, não é mesmo?
- Siiiimmm – gritam todos ao mesmo tempo.
- Quem é o primeiro?
- Eu – levanta o braço o Espantalho.
- Então vamos.
O homem de palha pula para as costas do Leão. A enorme fera chega até a beira do abismo, toma impulso e dá um salto com tanta força que alcança com sucesso o outro lado do despenhadeiro. Depois, o felino faz o mesmo com Dorothy e Totó e, finalmente, com o Homem de Lata. E ai, livres do abismo, o grupo reinicia a marcha pela estrada de pedras amarelas.
Mal andam uma centena de metros, eles escutam um ruído distante, como se fosse um urro selvagem, vindo da floresta, cada vez mais sombria. Dorothy assustada:
- Que rugido é esse?
- São os Kalidás - esclarece o Leão.
- Kalidás!... Quem são eles?
- Nunca os vi. Dizem que tem corpo de urso e cabeça de tigre.
Dorothy, escondendo o rosto com as mãos, meio desolada:
- Santo Deus!...
- Feras enormes, do tamanho de cem cachorrinhos enrolados num só. Possuem as garras afiadíssimas. Se eles nos alcançar pode ocorrer uma tragédia atrás da outra.
- Cruz credo!... - a garota faz o sinal da cruz.
Quando o Leão ia falar mais sobre as feras misteriosas, a turma depara com outro abismo cruzando a estrada. Dessa vez, muito mais largo muito mais profundo, impossível dele saltar mesmo para um felino.
Dorothy, depois de ficar um bom tempo estudando a região, dá seu palpite:
- Vejam bem que aquela árvore seca, ali na beira do despenhadeiro, está para cair a qualquer hora. Se o Homem de Lata derrubá-la, de modo que fique atravessada ao longo do abismo, passaremos sem risco como se fosse uma ponte improvisada.
- Isso mesmo – concordam os amigos.
Imediatamente, o Homem de Lata pega o machado e, em pouco tempo, a árvore range e tomba sobre o abismo, ligando as duas partes da estrada. Contentes com o trabalho do lenhador, os amigos começaram a fazer a travessia. Mas, antes de alcançarem o outro lado, viram que as feras misteriosas continuavam na perseguição deles.
- Corram, corram!... São os Kalidás!... Temos que cruzar esse abismo o mais rápido possível ou estaremos perdidos - urra o Leão, já sentindo as pernas bambas.
- Com mil raios! – exclama o Espantalho, assustadíssimo.
Dorothy, com Totó agarrado ao colo, pede a Deus que ajude a todos naquele momento de horror. Acelerando os passos, foi a primeira a pisar do outro lado da estrada. Logo atrás vieram o Homem de Lata e o Espantalho. Por último, o Leão que, apesar do medo, urrava sem parar numa tentativa de afugentar os Kalidás.
Nesse momento, vendo todos salvos, o Homem de Lata pega o machado e corta a extremidade da árvore, apoiada no barranco. Não deu outra: o tronco despencou rápido, levando com ele os Kalidás para o fundo do abismo.
- Ufa!... – suspira o Leão, mais aliviado.
A perigosa aventura deixa o grupo ainda mais apreensivo para sair daquela floresta desconhecida. Dorothy, muito cansada, monta no lombo do Leão, e prossegue a viagem pela estrada de pedras amarelas. Agora, para alegria de todos, cortava campos verdejantes e pontilhados de flores coloridas até chegarem às margens de um rio largo.
Surpresa, Dorothy pergunta:
- Será esse o rio da Cidade das Esmeraldas?
- Deve ser. Toda cidade tem o seu rio – imagina o Leão.
- Como faremos para atravessá-lo?
O Leão já estava com a resposta na ponta da língua:
- Muito fácil, através de uma embarcação. O Homem de Lata construirá uma balsa que nos levará até o outro lado do rio.
Sugestão apoiada por todos. O Homem de Lata não perdeu mais tempo. Em pouco tempo escolheu, entre os troncos de árvores derrubadas pelo vento na região, madeira ideal para fazer uma embarcação segura. O Espantalho, muito feliz, logo saiu para colher frutas gostosas para Dorothy e Totó, enjoados de comer nozes.
Quando caiu a noite, os viajantes de carne e osso, quase mortos de cansaço, escolheram o aconchego de uma árvore bem copada para dormir ali mesmo, embalados por um ventinho gostoso e repousante, que chegava lentamente do rio.
Dorothy até sonhou que o bondoso Mágico de Oz a levava de volta para o Kansas ao encontro dos seus bondosos tios.

ATIVIDADE DE PESQUISA - 2º EME

  ATENÇÃO ESTUDANTES DO GRUPO I Atividade de pesquisa Fazer uma pesquisa literária sobre o  Romantismo - Contexto histórico; - Carac...