segunda-feira, 23 de março de 2020

Tipos e gêneros textuais - 9º ano B

Assista ao vídeo para a revisão de conceitos:


Após assistir ao vídeo leia o texto abaixo e responda as questões propostas:


Crônica “Lixo”, do Luís Fernando Veríssimo (9º ano B)

LIXO

Encontraram-se na área de serviço. Cada um com seu pacote de lixo. É a primeira vez que se falam.
-- Bom dia...
-- Bom dia.
-- A senhora é do 610.
-- E o senhor do 612.
-- É.
-- Eu ainda não o conhecia pessoalmente...
-- Pois é.
-- Desculpe a minha indiscrição, mas tenho visto o seu lixo...
-- O meu o quê?
-- O seu lixo.
-- Ah...
-- Reparei que nunca é muito. Sua família deve ser pequena...
-- Na verdade, sou só eu.
-- Mmmmmmmm. Notei também que o senhor usa muita comida em lata.
-- É que tenho que fazer minha própria comida. E como não sei cozinhar...
-- Entendo.
-- A senhora também...
-- Me chame de você.
-- Você também perdoe a minha indiscrição, mas tenho visto alguns restos de comida em seu lixo. Champignos, coisas assim...
-- É que eu gosto muito de cozinhar. Fazer pratos diferentes. Mas, como moro sozinha, às vezes sobra...
-- A senhora... você não tem família?
-- Tenho, mas não aqui.
-- No Espírito Santo.
-- Como é que você sabe?
-- Vejo uns envelopes no seu lixo. Do Espírito Santo.
-- É. Mamãe escreve toda semana.
-- Ela é professora?
-- Isso é incrível! Como foi que você adivinhou?
-- Pela letra no envelope. Achei que era letra de professora.
-- O senhor não recebe muitas cartas. A julgar pelo seu lixo...
-- Pois é...
-- No outro dia tinha um envelope de telegrama amassado.
-- É.
-- Más notícias?
-- Meu pai. Morreu.
-- Sinto muito.
-- Ele já estava bem velhinho. Lá no Sul. Há tempos não nos víamos. 
-- Foi por isso que você recomeçou a fumar?
-- Como é que você sabe?
-- De um dia para o outro começaram a aparecer carteiras de cigarro amassadas no seu lixo.
-- É verdade. Mas consegui parar outra vez.
-- Eu, graças a Deus, nunca fumei.
-- Eu sei. Mas tenho visto uns vidrinhos de comprimido no seu lixo...
-- Tranquilizantes. Foi uma fase. Já passou.
-- Você brigou com o namorado, certo?
-- Isso você também descobriu no lixo?
-- Primeiro, o buquê de flores, com o cartãozinho, jogado fora. Depois, muito lenço de papel...
-- É, chorei bastante, mas já passou.
-- Mas hoje ainda tem uns lencinhos...
-- É que estou com um pouco de coriza.
-- Ah.
-- Vejo muita revista de palavras cruzadas no seu lixo.
-- É. Sim. Bem. Eu fico muito em casa. Não saio muito. Sabe como é.
-- Namorada?
-- Não.
-- Mas há uns dias tinha uma fotografia de mulher no teu lixo. Até bonitinha.
-- Eu estava limpando umas gavetas. Coisa antiga.
-- Você não rasgou a fotografia. Isso significa que, no fundo, você quer que ela volte.
-- Você já está analisando o meu lixo!
-- Não posso negar que o seu lixo me interessou.
-- Engraçado. Quando examinei o seu lixo, decidi que gostaria de conhecê-la. Acho que foi a poesia.
-- Não! Você viu meus poemas?
-- Vi e gostei muito.
-- Mas são muito ruins!
-- Se você achasse eles ruins mesmo, teria rasgado. Eles só estavam dobrados.
-- Se eu soubesse que você ia ler...
-- Só não fiquei com eles, porque, afinal, estaria roubando. Se bem que não sei: o lixo da pessoa ainda é propriedade dela?
-- Acho que não. Lixo é domínio público.
-- Você tem razão. Através do lixo, o particular se torna público. O que sobra da nossa vida privada se integra com a sobra dos outros. O lixo é  comunitário. É a nossa parte mais social. Será isso?
-- Bom, aí você já está indo fundo demais no lixo. Acho que...
-- Ontem, no seu lixo...
-- O quê?
-- Me enganei, ou eram cascas de camarão?
-- Acertou. Comprei uns camarões graúdos e descasquei.
-- Eu adoro camarão.
-- Descasquei, mas ainda não comi. Quem sabe a gente pode...
-- Jantar juntos?
-- É.
-- Não quero dar trabalho.
-- Trabalho nenhum.
-- Vai sujar a sua cozinha.
-- Nada. Num instante se limpa e põe os restos fora.
-- No seu lixo ou no meu?
(Luís Fernando Veríssimo)


Responda as questões sobre o texto:

1.       Em que pessoa é feita a narração? Observe como Luis Fernando Veríssimo estruturou o texto e explique qual é o papel do narrador.

2.       Caracterize os dois personagens (comportamento, vida pessoal, gostos, etc)

3.       Analisando o lixo dos dois personagens, podemos afirmar que ambos passaram por crises emocionais. Que elementos do lixo comprovam essa observação?

4.       Duas questões de análise sintática para você refletir:

a)      Classifique o sujeito da primeira oração do texto, tomando-a isoladamente.

b)      Classifique o sujeito da mesma oração, inserindo-a no contexto em que aparece.

5.       “Se você achasse eles ruins mesmo, teria rasgado.”
A frase acima apresenta uma sintaxe típica da linguagem cotidiana, coloquial. No entanto, pode ser considerada incorreta pelas gramáticas normativas da língua portuguesa. Reescreva de modo a atender às exigências da norma culta.

6.       Lenço de papel, no lixo da mulher, é uma consequência de duas situações distintas. Quais são?

7.       Na parte final do texto são feitas algumas considerações sobre o caráter social do lixo. Retire, dessa passagem, uma frase que poderia servir como síntese do conto de Luis Fernando Veríssimo.

8.       Classifique o texto quanto ao tipo e gênero.

9.       E para você: o lixo da pessoa ainda é problema dela? Por quê?


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Responda as questões em seu caderno, coloque seu nome e envie uma foto para o wattsapp da professora.

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